Eis uma das mais
delicadas questões com que se depara a Teologia cristã. Como crentes na
soberania divina irrestrita, não podemos supor que a Queda tenha pego Deus de
surpresa.
A prova de que Deus
não apenas previa a desobediência humana, como a permitiu, e a incluiu em Seu
glorioso plano, é que, antes mesmo da fundação do mundo, Ele havia provido um
meio de equacionar o problema do pecado. De forma que a Bíblia nos apresenta
Cristo como o “Cordeiro que foi morto desde antes da fundação do mundo”
(Ap.13:8b).
Não há improvisos no
plano arquitetado por Deus. E a prova disso é que Ele já havia feito ampla
provisão.
Antes do início da
História, um plano foi arquitetado, em que cada evento foi previamente
decretado pelo Criador. Em Sua Onisciência, Deus sempre soube com antecedência
de todas as coisas. O Deus das Escrituras não deve ser confundido com o “deus”
da chamada teologia de processo, que nada sabe quanto o futuro, pois é refém do
tempo que ele mesmo criou.
Definitivamente, Deus
não é refém do tempo. Ele vive na Eternidade, onde não há passado ou futuro,
mas um eterno agora. Todas as coisas estão diante d’Ele concomitantemente. Ele
não precisa lançar mão de dados estatísticos, para saber a probabilidade de
algo acontecer ou não. Ele simplesmente sabe.
Em Sua sabedoria, Ele
decidiu que o homem só conheceria Seu amor e Sua graça, se tropeçasse e caísse
de seu estado original.
Agostinho foi feliz ao
declarar: “Oh bendita queda, que nos proporcionou tão grande redentor!”. Se não
houvesse Queda, não haveria necessidade de Redenção. Se não ocorresse a
Ruptura, também não haveria a Convergência em Cristo na Plenitude dos Tempos.
Portanto, não haveria cruz; jamais entenderíamos a profundidade do amor de
Deus. A graça nos seria um conceito desprovido de qualquer sentido.
Sem a Queda,
fatalmente seríamos corrompidos por nossa própria perfeição, como aconteceu com
um tal querubim ungido.
Foi melhor sermos
humilhados, para ser depois exaltados pela Graça divina, do que nos exaltarmos,
e sermos definitivamente derrubados de nossa arrogância.
Tudo estava no plano
de Deus. A maneira como cairíamos, e como seríamos reconduzidos à glória.
A serpente não entrou
no paraíso por um descuido de Deus. A provisão de Deus para a reversão da
Queda é Cristo. Ele reverteu, através de Sua obediência, o processo
desencadeado pelo pecado. Ele não só zerou nosso débito, mas colocou-nos
numa situação de crédito com Deus.
Adão foi tentado no
paraíso e caiu. Jesus foi tentado no deserto, e não caiu. Enquanto Adão podia
comer de todas as árvores, Jesus, no deserto, não tinha alternativa pra saciar
Sua fome, senão transformar pedras em pão. Mas Ele resistiu até o último
instante.
Agora, Sua vida justa
e santa é creditada em nossa conta, enquanto nossos pecados foram debitados na
Sua. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele
fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co.5:21).
Autor: Hermes
Fernandes Via: Hospital da Alma
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