Introdução
Ultimamente
tem se criado uma doutrina em alguns círculos cristãos em que não se pode e nem
se deve celebrar o Natal. O argumento é que, as raízes da comemoração em voga,
estão numa festa pagã. Além disso, eles afirmam ainda, que não se sabe exatamente
em que dia e mês nasceu Jesus, logo, não se pode celebrar o dia do seu nascimento.
Pessoalmente
afirmo que, para mim, o Natal sempre teve apenas um significado, (e isto desde
a época que não era crente) – o nascimento de Jesus. Após convertido, essa data
passou a ter um significado ainda maior, era da data em que se comemorava o
nascimento do meu Redentor, Aquele que morreu pelos meus pecados. É a data em que
me recordo com mais ardor, que Deus fez-se homem; o Todo-Poderoso Criador dos
céus e da terra, nasceu e habitou entre nós.
Por causa
de toda polêmica atual, resolvi ensinar a igreja a respeito da celebração do
Natal e desfazer polêmicas acerca da data.
1.
Quando
Jesus nasceu?
Nos
relatos bíblicos não encontramos nenhuma referência sobre a data do nascimento
de Jesus Cristo. Naquela época os calendários eram muito confusos. Os antigos
calendários romanos tinham, às vezes, semanas de quinze dias e meses de dez
dias, variando de acordo com a vontade do Imperador reinante. O povo em geral
não conhecia as datas de nascimento, casamento ou falecimento. Não existem
registros históricos a respeito de "Festas
de Aniversário" na Antiguidade.
Sobre o
nascimento de Jesus sabemos muito pouco. Sabe-se que Ele nasceu antes da morte
de Herodes Magno (Mt 2.1; Lc 1.5) e que faleceu na
primavera de 750 da era romana, quer dizer, no ano 4 antes de Cristo. Conforme
estudos o ano mais provável do nascimento de Jesus é 7 ou 6 antes da era
cristã.
2.
O problema
da celebração e da data
Em 274
o Imperador Aureliano proclamou o
dia 25 de dezembro, como “Dies Natalis Invicti Solis” (O Dia do Nascimento do Sol Inconquistável).
O Sol passou a ser venerado. Buscava-se o seu calor que ficava no espaço muito
acima do frio do inverno na Terra. O início do inverno passou a ser festejado
como o dia do Deus Sol.
A
comemoração do Natal de Jesus Cristo surgiu de um decreto. O Papa Júlio I decretou em 350 que o
nascimento de Cristo deveria ser comemorado no dia 25 de Dezembro, substituindo
a veneração ao Deus Sol pela adoração ao Salvador Jesus Cristo. O
nascimento de Cristo passou a ser comemorado no Solstício do Inverno em
substituição às festividades do Dia do Nascimento do Sol Inconquistável.
Solstício é o momento em que o Sol,
durante seu movimento aparente na esfera
celeste, atinge a maior declinação
em latitude, medida a partir da linha do
equador. Ocorre em junho (Hemisfério Sul) e dezembro (Hemisfério Norte).
Outras
curiosidades estão relacionadas ao dia 25 de dezembro. O calendário que adotamos
hoje é uma forma recente de contar o tempo. Foi o Papa Gregório XIII que decretou o seu uso através da Bula Papal “Inter
Gravissimus” assinada em 24/02/1582. A proposta foi formulada por Aloysius Lilius, um físico napolitano,
e aprovada no Concílio de Trento
(1545/1563). Nesta ocasião foi corrigido um erro na contagem do tempo,
desaparecendo 11 dias do calendário. A decisão fez com que ao dia 4 de outubro
de 1582 sucedesse imediatamente o dia 15 de outubro do mesmo ano. Os últimos a
adotarem este calendário que usamos foram os russos em 1918.
O fato
interessante desta correção é que o Solstício do Inverno foi deslocado para
outra data. Dependendo do ano o início do inverno se dá entre o dia 21 e o dia
23 de dezembro. A razão fundamental para a comemoração do Nascimento de
Jesus no dia 25 de Dezembro se perdeu com essa mudança no calendário. Mesmo
assim o Natal continuou a ser comemorado no dia 25 de dezembro.
3.
A afirmação
bíblica do nascimento de Jesus Cristo
As Escrituras
Sagradas relatam o nascimento de Jesus nas passagens dos Evangelhos segundo
Mateus e Lucas. Vejamo-las:
Mt 2.1,2: “Tendo
Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns
magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam; Onde está o recém-nascido Rei dos
Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adora-lo”.
Lc 2.8-14: “Havia,
naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o se rebanho
durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu onde eles estavam, e a
glória do Senhor brilhou ao redor deles e ficaram tomados de grande temor. O
anjo, porém lhes disse: Não temas: eis aqui vos trago boas novas de grande
alegria, que o será para todo o povo. É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi,
que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança
envolta em faixas e ditada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo
uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas
maiores alturas, e paz na terra ente os homens, a quem ele quer bem”.
Os relatos
históricos de Mateus e Lucas apontam que, pastores, magos vindos do Oriente e anjos
– todos estavam comemorando o nascimento de Jesus Cristo, aquele que nascera a
fim de trazer salvação aos pecadores.
4.
O
Natal e as afirmações confessionais reformadas
Há
quem afirme que a fé reformada condena a celebração do Natal. Evidentemente, há
entre os reformados, aqueles que se opõe não apenas ao Natal, mas a quaisquer
outras celebrações. No entanto, também há quem as afirme. Em seu artigo “Não sou totalmente contra o Natal”,
o Dr. Augustus Nicodemus
afirma: “Penso que a realização de um culto a Deus em gratidão pelo
nascimento de Jesus Cristo nessa época do ano, como parte do calendário de
ocasiões especiais da Cristandade, se encaixa no espírito cristão reformado”.
Também
o Dr. Solano
Portela, no artigo “Calvino contra o Natal?” cita uma carta de João Calvino
ao pastor da cidade de Berna, Jean Haller,
de 2 de janeiro de 1551, onde o reformador escreveu: “Priusquam urbem unquam ingrederer,
nullae prorsus erant feriae praeter diem Dominicum. Ex quo sum revocatus hoc
temperamentum quae sivi, ut Christi natalis celebraretur” que traduzido
para o português seria: “Antes da minha chamada à cidade, eles não tinham nenhuma
festa exceto no dia do Senhor. Desde então eu tenho procurado moderação afim de
que o nascimento de Cristo seja celebrado”.
Reconhecido por suas detalhadas pesquisas históricas e
teológicas, o Dr. Hermisten Maia Pereira
da Costa, professor do Seminário TeológicoPresbiteriano Rev. José Manoel da Conceição e da Escola Superior de Teologia do Mackenzie, afirma que as cinco festas da Igreja Reformada eram: Natal, Sexta-Feira
Santa, Páscoa, Assunção e Pentecostes.
A Confissão de Fé de
Westminster , documento confessional adotado por grande parte dos presbiterianos
do mundo, diz que “... são partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos
religiosos; votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais, tudo
o que, em seus vários tempos e ocasiões próprias, deve ser usado de um modo santo
e religioso”. A Segunda Confissão Helvética de 1566, produzida sob supervisão de Heinrich Bullinger, discípulo de Calvino,
afirma (XXIV): “Ademais, se na liberdade cristã, as igrejas celebram de modo religioso
a lembrança do nascimento do Senhor, a circuncisão, a paixão, a ressurreição e
Sua ascensão ao céu, bem como o envio do Espírito Santo sobre os discípulos,
damos-lhes plena aprovação”. O Sínodo de Dort (1618-1619), que afirmou
a ortodoxia calvinista resumida nos famosos “5
pontos”, afirmou que a Igreja Reformada deveria observar vários dias especiais
do calendário cristão, inclusive o nascimento de Jesus (art. 67).
Tais afirmações de documentos confessionais reformados revelam
que, no mínimo, muitos Reformados eram sim, favoráveis à celebração de datas
especiais do calendário litúrgico cristão, incluindo a comemoração
natalina.
5.
A razão
da celebração cristã
Não
é porque o mundo ocidental, principalmente, se volta para comemorar o Natal
nesta época do ano que nós o fazemos. Na verdade, o nosso Natal é comemorado de
uma maneira completamente diferente do mundo. Comemoramos o nascimento de Cristo
todos os dias do ano – Sim, esta é a mensagem do Evangelho: “E
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade...”
(Jo 1.14).
Não há um culto sequer, durante o ano, em que deixemos de louvar a Deus pela
vinda de Jesus para ser o nosso Redentor.
Comemoramos
o Natal com consciência de quem é Jesus e do que Ele fez por nós – Sabemos que
Jesus é eterno, que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1).
Compreendemos que o homem Jesus é a encarnação do Filho de Deus, e que “todas
as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele
nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3).
Entendemos que a vinda de Jesus ao mundo é prova do grandioso amor de Deus por
nós – Comemorar o Natal é um privilégio quando lembramos que “Deus
amou o mundo de tal
maneira que deu Seu Filho...” (Jo 3.16).
Ao louvarmos a Deus pelo Natal de Jesus Cristo estamos, também, reconhecendo o
que nEle, fomos feitos – “mas a todos quantos o receberam, aos que
crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12).
Assim,
o Natal não se comemora somente na 2ª quinzena de dezembro, mas durante todo o
ano. Não se comemora comendo, bebendo ou comprando presentes compulsivamente. O
Natal se comemora servindo a Deus, adorando, louvando ao Senhor e Salvador
Jesus Cristo. Ao invés
de ficarmos reclamando de que esta data virou sinônimo de consumismo, devemos
resgatar o verdadeiro sentido do Natal: "Glória
a Deus nas maiores alturas, e paz na terra ente os homens, a quem ele quer bem”.
Feliz Natal! Que o Senhor o (a) abençoe!
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