terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Posso comemorar o Natal?



Introdução
Ultimamente tem se criado uma doutrina em alguns círculos cristãos em que não se pode e nem se deve celebrar o Natal. O argumento é que, as raízes da comemoração em voga, estão numa festa pagã. Além disso, eles afirmam ainda, que não se sabe exatamente em que dia e mês nasceu Jesus, logo, não se pode celebrar o dia do seu nascimento.

Pessoalmente afirmo que, para mim, o Natal sempre teve apenas um significado, (e isto desde a época que não era crente) – o nascimento de Jesus. Após convertido, essa data passou a ter um significado ainda maior, era da data em que se comemorava o nascimento do meu Redentor, Aquele que morreu pelos meus pecados. É a data em que me recordo com mais ardor, que Deus fez-se homem; o Todo-Poderoso Criador dos céus e da terra, nasceu e habitou entre nós.

Por causa de toda polêmica atual, resolvi ensinar a igreja a respeito da celebração do Natal e desfazer polêmicas acerca da data.

1.        Quando Jesus nasceu?

Nos relatos bíblicos não encontramos nenhuma referência sobre a data do nascimento de Jesus Cristo. Naquela época os calendários eram muito confusos. Os antigos calendários romanos tinham, às vezes, semanas de quinze dias e meses de dez dias, variando de acordo com a vontade do Imperador reinante. O povo em geral não conhecia as datas de nascimento, casamento ou falecimento. Não existem registros históricos a respeito de "Festas de Aniversário" na Antiguidade.

Sobre o nascimento de Jesus sabemos muito pouco. Sabe-se que Ele nasceu antes da morte de Herodes Magno (Mt 2.1; Lc 1.5) e que faleceu na primavera de 750 da era romana, quer dizer, no ano 4 antes de Cristo. Conforme estudos o ano mais provável do nascimento de Jesus é 7 ou 6 antes da era cristã.

2.        O problema da celebração e da data

Em 274 o Imperador Aureliano proclamou o dia 25 de dezembro, como “Dies Natalis Invicti Solis” (O Dia do Nascimento do Sol Inconquistável). O Sol passou a ser venerado. Buscava-se o seu calor que ficava no espaço muito acima do frio do inverno na Terra. O início do inverno passou a ser festejado como o dia do Deus Sol.

A comemoração do Natal de Jesus Cristo surgiu de um decreto. O Papa Júlio I decretou em 350 que o nascimento de Cristo deveria ser comemorado no dia 25 de Dezembro, substituindo a veneração ao Deus Sol pela adoração ao Salvador Jesus Cristo. O nascimento de Cristo passou a ser comemorado no Solstício do Inverno em substituição às festividades do Dia do Nascimento do Sol Inconquistável. Solstício é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Ocorre em junho (Hemisfério Sul) e dezembro (Hemisfério Norte).

Outras curiosidades estão relacionadas ao dia 25 de dezembro. O calendário que adotamos hoje é uma forma recente de contar o tempo. Foi o Papa Gregório XIII que decretou o seu uso através da Bula Papal “Inter Gravissimus” assinada em 24/02/1582. A proposta foi formulada por Aloysius Lilius, um físico napolitano, e aprovada no Concílio de Trento (1545/1563). Nesta ocasião foi corrigido um erro na contagem do tempo, desaparecendo 11 dias do calendário. A decisão fez com que ao dia 4 de outubro de 1582 sucedesse imediatamente o dia 15 de outubro do mesmo ano. Os últimos a adotarem este calendário que usamos foram os russos em 1918.

O fato interessante desta correção é que o Solstício do Inverno foi deslocado para outra data. Dependendo do ano o início do inverno se dá entre o dia 21 e o dia 23 de dezembro. A razão fundamental para a comemoração do Nascimento de Jesus no dia 25 de Dezembro se perdeu com essa mudança no calendário. Mesmo assim o Natal continuou a ser comemorado no dia 25 de dezembro.

3.        A afirmação bíblica do nascimento de Jesus Cristo

As Escrituras Sagradas relatam o nascimento de Jesus nas passagens dos Evangelhos segundo Mateus e Lucas. Vejamo-las:

Mt 2.1,2: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam; Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adora-lo”.

Lc 2.8-14: “Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o se rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu onde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém lhes disse: Não temas: eis aqui vos trago boas novas de grande alegria, que o será para todo o povo. É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e ditada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra ente os homens, a quem ele quer bem”.

Os relatos históricos de Mateus e Lucas apontam que, pastores, magos vindos do Oriente e anjos – todos estavam comemorando o nascimento de Jesus Cristo, aquele que nascera a fim de trazer salvação aos pecadores.

4.        O Natal e as afirmações confessionais reformadas

Há quem afirme que a fé reformada condena a celebração do Natal. Evidentemente, há entre os reformados, aqueles que se opõe não apenas ao Natal, mas a quaisquer outras celebrações. No entanto, também há quem as afirme. Em seu artigo “Não sou totalmente contra o Natal”, o Dr. Augustus Nicodemus afirma: Penso que a realização de um culto a Deus em gratidão pelo nascimento de Jesus Cristo nessa época do ano, como parte do calendário de ocasiões especiais da Cristandade, se encaixa no espírito cristão reformado.

Também o Dr. Solano Portela, no artigo “Calvino contra o Natal?” cita uma carta de João Calvino ao pastor da cidade de Berna, Jean Haller, de 2 de janeiro de 1551, onde o reformador escreveu: “Priusquam urbem unquam ingrederer, nullae prorsus erant feriae praeter diem Dominicum. Ex quo sum revocatus hoc temperamentum quae sivi, ut Christi natalis celebraretur” que traduzido para o português seria: “Antes da minha chamada à cidade, eles não tinham nenhuma festa exceto no dia do Senhor. Desde então eu tenho procurado moderação afim de que o nascimento de Cristo seja celebrado”.

Reconhecido por suas detalhadas pesquisas históricas e teológicas, o Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa, professor do Seminário TeológicoPresbiteriano Rev. José Manoel da Conceição e da Escola Superior de Teologia do Mackenzie, afirma que as cinco festas da Igreja Reformada eram: Natal, Sexta-Feira Santa, Páscoa, Assunção e Pentecostes.

A Confissão de Fé de Westminster , documento confessional adotado por grande parte dos presbiterianos do mundo, diz que “... são partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos religiosos; votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais, tudo o que, em seus vários tempos e ocasiões próprias, deve ser usado de um modo santo e religioso”. A Segunda Confissão Helvética de 1566, produzida sob supervisão de Heinrich Bullinger, discípulo de Calvino, afirma (XXIV): “Ademais, se na liberdade cristã, as igrejas celebram de modo religioso a lembrança do nascimento do Senhor, a circuncisão, a paixão, a ressurreição e Sua ascensão ao céu, bem como o envio do Espírito Santo sobre os discípulos, damos-lhes plena aprovação”. O Sínodo de Dort (1618-1619), que afirmou a ortodoxia calvinista resumida nos famosos “5 pontos”, afirmou que a Igreja Reformada deveria observar vários dias especiais do calendário cristão, inclusive o nascimento de Jesus (art. 67).

Tais afirmações de documentos confessionais reformados revelam que, no mínimo, muitos Reformados eram sim, favoráveis à celebração de datas especiais do calendário litúrgico cristão, incluindo a comemoração natalina.

5.        A razão da celebração cristã

Não é porque o mundo ocidental, principalmente, se volta para comemorar o Natal nesta época do ano que nós o fazemos. Na verdade, o nosso Natal é comemorado de uma maneira completamente diferente do mundo. Comemoramos o nascimento de Cristo todos os dias do ano – Sim, esta é a mensagem do Evangelho: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade...” (Jo 1.14). Não há um culto sequer, durante o ano, em que deixemos de louvar a Deus pela vinda de Jesus para ser o nosso Redentor.

Comemoramos o Natal com consciência de quem é Jesus e do que Ele fez por nós – Sabemos que Jesus é eterno, que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Compreendemos que o homem Jesus é a encarnação do Filho de Deus, e que “todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). Entendemos que a vinda de Jesus ao mundo é prova do grandioso amor de Deus por nós – Comemorar o Natal é um privilégio quando lembramos que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho...” (Jo 3.16). Ao louvarmos a Deus pelo Natal de Jesus Cristo estamos, também, reconhecendo o que nEle, fomos feitos – “mas a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12).

Assim, o Natal não se comemora somente na 2ª quinzena de dezembro, mas durante todo o ano. Não se comemora comendo, bebendo ou comprando presentes compulsivamente. O Natal se comemora servindo a Deus, adorando, louvando ao Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ao invés de ficarmos reclamando de que esta data virou sinônimo de consumismo, devemos resgatar o verdadeiro sentido do Natal: "Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra ente os homens, a quem ele quer bem”

Feliz Natal! Que o Senhor o (a) abençoe!



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