Por
Franklin Ferreira
De
humanista a reformador João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, em Noyon, na
Província de Picardia (França), na fronteira dos Países Baixos. Seu pai era um
advogado que trabalhou para o cônego desta cidade, e sua mãe, uma mulher muito
piedosa. Foi enviado para estudar filosofia em Paris, no Collège de Montaigu,
mas em 1528, após se desentender com os líderes da igreja, seu pai o enviou
para estudar direito em Orléans e grego em Bourges. Em 1531, com a morte do
pai, retornou a Paris para dedicar-se ao seu interesse predileto, a literatura
clássica.
Em 1533,
converteu-se à fé evangélica e a respeito deste fato disse: "Minha mente,
que, a despeito de minha juventude, estivera por demais empedernida em tais
assuntos, agora estava preparada para uma atenção séria. Por uma súbita conversão,
Deus transformou-a e trouxe-a à docilidade".
No final
desse ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser coautor de um discurso
simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o novo reitor da
Universidade de Paris. Refugiou-se na casa de um amigo em Angoulême, onde
começou a escrever a sua principal obra teológica. Em março de 1535, foi
publicada em Basiléia a primeira edição das Institutas da Religião Cristã, que
seria "uma chave para abrir o caminho para todos os filhos de Deus num
entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas".
Em 1536, ao passar por Genebra, foi coagido por Guillaume Farel a iniciar um
trabalho ali. Calvino ficou chocado com a ideia pois se sentiu despreparado
para a tarefa. Ele poderia fazer mais pela igreja através de seus estudos e de
seus escritos. Nesse momento, Farel trovejou a ira de Deus sobre Calvino com palavras que este
jamais esqueceria – Deus amaldiçoaria o seu lazer e os seus estudos se, em tão
grave emergência, ele se retirasse, recusando-se a ajudar. A primeira estada
de Calvino em Genebra durou menos de dois anos. O seu primeiro catecismo e
confissão de fé foram adotados, mas ele e Farel entraram em conflito com as
autoridades civis acerca de questões eclesiásticas: disciplina, adesão à
confissão de fé e práticas litúrgicas.
De 1538 a 1541, mudou-se para Estrasburgo, onde pastoreou a igreja de
refugiados franceses. Um refugiado que visitou a igreja de Calvino fez a
seguinte descrição do culto: "Todos cantam, homens e mulheres; e é um belo
espetáculo. Cada um tem um livro de cânticos nas mãos... Olhando para esse
pequeno grupo de exilados, chorei, não de tristeza, mas de alegria, por
ouvi-los todos cantando tão sinceramente, enquanto agradeciam a Deus por tê-los
levado a um lugar onde seu nome é glorificado". Lá se casou com Idelette
de Bure e travou contato com Martin Bucer, que influenciou profundamente sua
teologia, principalmente acerca da doutrina do Espírito Santo e da disciplina eclesiástica.
O erudito de Genebra
Em 1541,
os genebrinos suplicaram que Calvino retornasse à sua igreja. Ele retornou a
Genebra no dia 13 de setembro, viu-se nomeado pregador da antiga igreja de St.
Pierre e foi "contemplado com um salário razoável, uma casa ampla e
porções anuais de 12 medidas de trigo e 250 galões de vinho". Em
1548, Idelette faleceu, e Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho
que tiveram morreu ainda na infância. No entanto, Calvino não ficou inteiramente
só. Tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões da Europa, com os quais
trocava intensa correspondência. Depois de grandes lutas, conseguiu implementar
seu programa de reformas, mudando completamente toda a Genebra, tornando-a um
exemplo para toda a cristandade, "a mais perfeita escola de Cristo desde
os dias dos apóstolos", como o reformador escocês John Knox disse.
Em 6 de
fevereiro de 1564, Calvino, muito enfermo, foi transportado para a igreja numa
cadeira, pregando então com dificuldade o seu último sermão. No dia de Páscoa,
2 de abril, foi levado pela última vez à igreja. Participou da ceia e, com a
voz trêmula, cantou junto com a congregação. Em 28 de abril de 1564, um mês
antes de morrer, convocou os ministros de Genebra à sua casa. Tendo-os à sua
volta, despediu-se: "A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente, e
Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca
corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci.
Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a
simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei
fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus". Ele faleceu
em 27 de maio de 1564. Calvino foi enterrado em um cemitério comum. Devido a
seu próprio pedido, não se ergueu lápide alguma sobre o lugar de sua sepultura.
A
pregação como Vox Dei
Calvino
definiu assim a comunidade cristã: "Onde quer que vejamos a Palavra de
Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos
administrados segundo a instituição de Cristo, não se pode contestar, de modo
nenhum, que ali há uma igreja de Deus". Como o
Rev. Paulo Anglada demonstra, o reformador francês elaborou detalhadamente o
tema da natureza da pregação como "a voz de Deus". Em seu comentário
de Isaías, ele afirma que na pregação "a palavra sai da boca de Deus de
tal maneira que ela sai, de igual modo, da boca de homens; pois Deus não fala
abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de que,
pela agência deles, possa fazer conhecida a sua vontade".
Comentando
a Epístola aos Gálatas, Calvino enfatiza a eficácia do ministério da Palavra,
afirmando: visto que Deus "emprega os ministros e a pregação como seus
instrumentos para este propósito, apraz-lhe atribuir a eles a obra que ele
mesmo realiza, pelo poder do seu Espírito, em cooperação com os labores do
homem". Para Calvino, a leitura e a meditação privadas das Escrituras não
substituem o culto público, pois, "entre os muitos nobres dons com os
quais Deus adornou a raça humana, um dos mais notáveis é que ele condescende em
consagrar bocas e línguas de homens para o seu serviço, fazendo com que a sua
própria voz seja ouvida neles". Por essa razão, argumenta Calvino, quem
despreza a pregação despreza a Deus, porque ele não fala por novas revelações
do céu, mas pela voz de seus ministros, a quem confiou a pregação da sua
Palavra. Ao falar Deus aos homens, por meio da pregação, Calvino identifica
dois benefícios: "Por um lado, ele [Deus], por meio de um teste admirável,
prova a nossa obediência, quando ouvimos seus ministros exatamente como
ouviríamos a ele mesmo; enquanto, por outro, ele leva em consideração a nossa
fraqueza, ao dirigir-se a nós de maneira humana, por meio de intérpretes, a fim
de que possa atrair-nos a si mesmo, em vez de afastar-nos por seu trovão".
A
importância dada ao sermão se percebe no lugar que ele ocupa na liturgia
reformada – o lugar central. Isso não
significa que Calvino tenha dado importância exagerada ao pregador; significa
apenas que, para ele, o sermão tem de ser a fiel interpretação da verdade
revelada nas Escrituras, dirigida aos problemas do momento. Assim como Calvino
cria na presença espiritual de Cristo na administração dos sacramentos, também
cria na presença espiritual de Cristo na pregação, salvando os eleitos, edificando
e governando sua igreja. Essa concepção sacramental da pregação é afirmada diversas
vezes por Calvino nas Institutas. Por exemplo, ao combater o emprego de
símbolos visíveis para representar a presença de Cristo no culto, ele afirma
que é "pela verdadeira pregação do evangelho", e não por cruzes, que
"Cristo é retratado como crucificado diante de nós" (I.11.7).
Citando
Agostinho (IV.14.26), que se referia às palavras como sinais, Calvino entendia
que na pregação "o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião
para a presença de Deus em graça e em misericórdia. Neste sentido, as palavras
do sermão são comparáveis aos elementos nos sacramentos" (IV.1.6;
4.14.9-19). Por isso, ele escreveu: "A igreja de Deus será educada pela
pregação autêntica de sua Palavra, e não pelas invenções dos homens [as quais
são madeira, feno e palha]".
A prioridade da pregação expositiva
Calvino
escreveu: "A majestade das Escrituras merece que seus expositores façam-na
evidente, que tratem-na com modéstia e reverência". Durante quase 25 anos
de ministério na igreja de St. Pierre, em Genebra, seu modelo de pregação foi o
mesmo, do começo ao fim, pregando através da Escritura, livro após livro,
versículo após versículo. Uma das mais claras ilustrações de que a pregação sequencial havia sido uma
escolha consciente da parte de Calvino foi este fato: no dia da Páscoa, em
1538, depois de pregar, ele deixou o púlpito da igreja de St. Pierre, banido
pelo conselho da cidade; quando retornou, em setembro de 1541, mais de três
anos depois, ele continuou a exposição no versículo seguinte.
Como John
Piper demonstra, no auge de seu ministério em Genebra, Calvino pregava num
livro do Novo Testamento nos domingos pela manhã e à tarde (embora pregasse nos
Salmos em algumas tardes) e num livro do Antigo Testamento, nas manhãs, durante
a semana. Desse modo, ele expôs a maior parte das Escrituras. Ele começou sua
série de pregações expositivas no livro de Atos, em 25 de agosto de 1549 e
terminou-a em março de 1554, num total de 89 sermões. Depois, ele prosseguiu
para 1 e 2 Tessalonicenses (46 sermões), 1 e 2 Coríntios (186 sermões) e
Efésios (48 sermões), até maio de 1558, quando passou um tempo adoentado. Na
primavera de 1559, começou a Harmonia dos Evangelhos, série inacabada por conta
de sua morte em maio de 1564 (65 sermões). Durante a semana, naquele período,
pregou 174 sermões em Ezequiel (1552-1554), 159 sermões em Jó (1554-1555), 200
sermões em Deuteronômio (1555-1556), 353 sermões em Isaías (1556-1559), 123
sermões em Gênesis (1559-1561), 107 sermões em 1 Samuel e 87 sermões em 2
Samuel (1561-1563), e assim por diante. Os livros que ele pregou do primeiro ao
último capítulo foram: Gênesis, Deuteronômio, Jó, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2
Reis, Profetas Maiores e Menores, Evangelhos Sinóticos, Atos, 1 e 2 Coríntios,
Gálatas, Efésios, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Hebreus.
Por que
este compromisso com a centralidade da pregação expositiva sequencial? Piper
sugere as seguintes espostas:
1.
Calvino acreditava que a Escritura era a lâmpada que havia sido tirada das
igrejas: "Tua Palavra, que deveria ter brilhado sobre todas as pessoas
como uma lâmpada, foi retirada ou, pelo menos, suprimida de nós... E agora, ó
Senhor, o que resta a um miserável como eu a não ser... suplicar-te
sinceramente que não me julgues de acordo com [meus] desertos, aquele terrível
abandono da tua Palavra em que vivi e do qual, na tua maravilhosa bondade, me
livraste". Calvino considerou que essa contínua exposição de livros da
Bíblia era a melhor maneira de superar o "terrível abandono da Palavra [de
Deus]".
2. Calvino tinha aversão a quem pregava suas próprias idéias no púlpito:
"Quando adentramos o púlpito, não podemos levar conosco nossos próprios
sonhos e fantasias". Acreditava que, expondo as Escrituras por completo,
seria forçado a lidar com o que Deus queria dizer, não somente com o que ele
talvez gostaria de dizer.
3. Ele
acreditava que a Palavra de Deus era, de fato, a Palavra de Deus e que toda ela
era inspirada, proveitosa e fulgurante como a luz da glória de Deus: "Que
os pastores ousem corajosamente todas as coisas pela Palavra de Deus... Que
contenham e comandem todo poder, glória e excelência do mundo, que dêem lugar e
obedeçam à divina majestade dessa Palavra. Que encarreguem o mundo todo de
fazer isso, desde o maior até ao menor. Que edifiquem o corpo de Cristo. Que
devastem o reino de Satanás. Que cuidem das ovelhas, matem os lobos, instruam e
exortem os rebeldes. Que amarrem e libertem trovões e raios, se necessário, mas
que façam tudo isso de acordo com a Palavra de Deus".
Como
Piper destaca, a ênfase aqui é "a divina majestade dessa Palavra".
Este sempre foi o assunto fundamental para Calvino. Como poderia expor, da
melhor maneira possível, a majestade de Deus? Sua resposta foi dada com uma
vida de pregação expositiva contínua. Não havia maneira melhor para manifestar
a completa extensão da glória e da majestade de Deus do que difundir toda a
Palavra de Deus no contexto do ministério pastoral.
A estrutura do sermão
James
Boyce escreveu: "Calvino era antes de tudo um pregador e, como pregador,
via-se a si mesmo como um professor da Bíblia... Ele considerava a pregação o
seu trabalho mais importante". Cerca de dois mil dos sermões de Calvino
foram preservados. Expondo parágrafos e versículos, ele seguia através de um
profeta, de um salmo, de um evangelho ou de uma epístola. Como Boyce descreveu:
"Ele começava no primeiro versículo do livro e tratava de seções
contínuas, de quatro ou cinco versículos, até que chegava ao fim e, neste ponto,
dava início a outro livro". Não havia uma palavra de discordância com as
Escrituras, nem uma inferência depreciativa, nem uma fuga das dificuldades,
embora ele evitasse as especulações infundadas: "Visto que revelar a mente
do autor é a única tarefa do intérprete, ele erra o alvo ou, pelo menos,
desvia-se de seus limites quando afasta seus leitores do propósito do autor...
É... presunção e quase blasfêmia distorcer o significado das Escrituras, agindo
sem o devido cuidado, como se isso fosse um jogo que estivéssemos
jogando". Por isso, ele enfatizou: "O verdadeiro significado das
Escrituras é aquele que é natural e óbvio". Ele renunciou tudo que pudesse
trazer-lhe notoriedade, colocando toda sua formação a serviço da fé cristã.
Não é
possível descobrir nos sermões de Calvino o arranjo homilético segundo as normas
atuais de pregação. Em muitos casos, Calvino tomava o texto, analisava-o e
aplicava-o sucessivamente durante cerca de uma hora, o que conferia à mensagem
um tom livre e informal. Como
Steven Lawson nota, a introdução do sermão era curta, sucinta e direta, consistindo
de um breve comentário que lembrava a congregação o que a passagem anterior
dizia, colocava os próximos versículos no contexto ou mostrava o argumento
central da passagem pregada, relacionando-a ao contexto da estrutura do livro
que estava sendo exposto.
Por isso,
pode-se perceber que há uma ordem e um arranjo lógico e um desenvolvimento
progressivo nas suas mensagens. Seus sermões não são exemplos de beleza e
estilo por duas razões: ele pregava sem esboço, pois tinha de pregar quase
diariamente; e tinha um profundo respeito para com a Palavra de Deus, a ponto
de pensar que um estilo excessivamente elaborado poderia prejudicar a clareza
da mensagem.
Neste
caso, a pregação sem anotações era uma reação ao costume daquela época, quando
os sermões eram lidos e se tornavam frios, sem entusiasmo e sem energia. Por
outro lado, de acordo com Lawson, ainda que pregasse sem anotações, seus
sermões testemunham um uso impressionante de frases curtas compostas de
sujeito, verbo e predicado e fáceis de assimilar, palavras simples e expressões
coloquiais, figuras de linguagem, perguntas retóricas, paráfrases e repetições,
ironia mordaz e linguagem instigante.
Carl G.
Kromminga afirmou que Calvino viveu e trabalhou como se estivesse na presença
de Deus. Por isso, o empenho de Calvino era trazer os homens à presença de
Deus.
Isto é ainda mais evidente em seus sermões, que eram sempre cruciais e
decisivos. T. H. L. Parker escreveu: "A pregação expositiva consiste na
explanação e aplicação de uma passagem das Escrituras. Sem explanação, ela não
é expositiva; sem aplicação, ela não é pregação". Por isso, Calvino
escreveu que os ouvintes do sermão deveriam cultivar um "desejo de
obedecer a Deus de forma completa e incondicional". E acrescentou:
"Não assistimos à pregação meramente para ouvir o que não sabemos, mas
para sermos encorajados a fazer nossa obrigação".
Por isso,
seus sermões partiam das Escrituras para a situação concreta e presente em
Genebra, incluindo exortação pastoral, exame pessoal, repreensão amorosa,
confrontação, usando muitas vezes pronomes na primeira pessoa do plural.
Nem
sempre Calvino usou ilustrações, e, quando as usava, elas eram raramente de
fora da Escritura. No entanto, ele estabelecia comparações com o quadro da vida
diária para tornar bem accessível ao seu ouvinte a mensagem da Palavra de Deus.
Kromminga aponta as metáforas, as exclamações e outros recursos da oratória que
contribuíram para tornar efetiva a sua mensagem. E, na
conclusão de cada sermão, ele fazia primeiramente um resumo da verdade que
explicara num parágrafo curto; depois, instava de forma direta seus ouvintes a
que se submetessem ao Senhor, em arrependimento, obediência e humildade. Finalmente,
ele concluía com uma oração, confiando seu rebanho a Deus.
Precisa
ser ressaltado que Calvino acreditava que Paulo havia providenciado um modelo
para o ministério da Palavra, quando falou sobre como ele, Paulo, não cessava
de admoestar tanto "publicamente" quanto de "casa em casa".
Por ter uma verdadeira preocupação pastoral por aqueles para quem estava
pregando, Calvino procurou visitá-los em seus lares. "O que quer que os
outros pensem", Calvino escreveu, "não julgaremos o nosso ofício como
algo que possui limites tão estreitos, que, terminado o sermão, possamos
descansar achando que concluímos a nossa tarefa. Aqueles cujo sangue será requerido
de nós, se os perdermos por causa de nossa preguiça, devem receber cuidado mais
íntimo e mais vigilante". Portanto, a pregação requer ser suplementada com
uma entrevista pastoral. "Não é suficiente que, do púlpito, um pastor
ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução
particular de acordo com a necessidade e as circunstâncias específicas de cada
caso". Calvino insistiu que o pastor precisa ser um pai para cada membro
da congregação.
O papel
do pregador
O centro
da atenção de Calvino era a vontade de Deus, era a revelação da face de Deus e
o empenho em trazer o ouvinte à presença do Senhor. Ou na pregação da mais
profunda doutrina, ou em algum tema ligado à vida prática, Calvino chamava
continuamente os seus ouvintes à face de Deus. Em 1537, aos 29 anos, num de
seus primeiros livros, Breve Instrução Cristã, ele escreveu:
"Como o
Senhor desejou que tanto a Sua Palavra como as Suas ordenanças fossem dispensadas
ou administradas por meio do ministério de homens, é necessário que haja
pastores ordenados nas igrejas, para ensinarem ao povo a sã doutrina, pública e
privadamente; administrarem as ordenanças e darem a todos o bom exemplo de uma
vida pura e santa... Lembremo-nos, contudo, que a autoridade que as Escrituras
atribuem aos pastores está plenamente contida nos limites do ministério da
Palavra, pois o fato é que Cristo não deu esta autoridade a homens, e sim à
Palavra da qual Ele faz esses homens servos.
Portanto,
que os ministros da Palavra se disponham a fazer todas as coisas por meio dessa
Palavra que eles foram designados a apresentar.
Que eles
façam com que todos os poderes, todas as celebridades e todas as pessoas de
alta posição no mundo se humilhem, a fim de obedecerem à majestade dessa
Palavra.
Por meio dessa Palavra, que eles deem ordens a todo o mundo, do maior ao menor;
que edifiquem a casa de Cristo, ponham abaixo o reino de Satanás, pastoreiem as
ovelhas, matem os lobos, instruam e encorajem os que se deixam ensinar; acusem,
repreendam e convençam os rebeldes dos seus pecados – mas tudo pela Palavra de
Deus.
Se alguma
vez eles se apartarem dessa Palavra, para seguirem as fantasias e invenções da
sua própria cabeça, daí em diante não devem ser recebidos como pastores; ao
contrário, são lobos perniciosos que devem ser postos fora! Pois Cristo
estabeleceu que não devemos dar ouvidos a ninguém, exceto àqueles que nos
ensinam o que extraíram de Sua Palavra.
Não será
disso que necessitamos com urgência hoje? Porventura, será que não precisamos
hoje de uma revitalização da mensagem ao estilo de Calvino, de modo a colocar a
comunidade cristã face a face com Deus?"
__________________
O Rev. Franklin Ferreira é ministro da Convenção Batista Brasileira, Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologiada Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em Teologia pelo SeminárioTeológico Batista do Sul do Brasil. É diretor e professor de teologia
sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos
Campos, São Paulo, e consultor acadêmico de Edições Vida Nova. Autor dos livros
Teologia Cristã e Teologia Sistemática (este em coautoria com Alan Myatt),
publicados por Edições Vida Nova, e Gigantes da Fé e Agostinho de A a Z.
Fonte: Bereianos com grifos e alterações minhas.
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