sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Calvinismo e arte


A questão se Calvino e a Reforma tiveram alguma influência na arte é normalmente respondida com um "não", no sentido de que Calvino não teria nenhum interesse, ou ainda pior, teria sido avesso à arte. Atualmente esse ponto de vista tem se mostrado insustentável pelo trabalho de Doumergue, Wille, van Schelven, Wencelius1 e outros. Tal aversão a arte às vezes é encontrada em ambientes calvinistas, com certeza, mas deriva de uma época anterior e é uma inclinação puritana possivelmente proveniente de influências anabatistas.

Dr. Abraham Kuyper2 já discutiu essa questão extensivamente em seu discurso reitoral, "Het Calvinisme en de kunst"3 ("O Calvinismo e as artes"), onde ele traz a seguinte discussão: "O Calvinismo, na medida em que também colocou seu selo em nossa vida como nação além dos círculos Calvinistas, num sentido restrito, prestou este serviço eterno, que ele restaurou a arte para si, abriu a arte para um mundo e para a vida cotidiana antes desconhecida, abriu os olhos dos artistas para a beleza no aparentemente insignificante, e fomentou um amor pela liberdade que estimulou a paixão pela arte".

Parece um pouco estranho que Kuyper deva argumentar, como ele faz aqui, que o Calvinismo nunca desenvolveu um estilo artístico próprio. No entanto, eu acho que as características essenciais desta arte foram realmente formuladas nesta declaração reitoral. Grande liberdade e abertura para toda criação, amor pelo grande e pequeno, consciência de certa hierarquia de vales, revogação do esplendor e do fato, sobriedade que por um lado evita toda a idealização e por outro não tolera a glorificação do pecado, enfatiza no humano sem o tornar herói, enquanto, no entanto, reconhece a importância da luta interna e externa e tem um interesse nos aspectos mais íntimos das relações humanas – tudo isso é sempre fruto, para arte, de uma abordagem de vida nutrida pela Escritura.

Além dos pintores alemães do século XVII, pode-se também referir a Albrecht Dürer4, os últimos trabalhos de A. Atdorfer, H. Schutz, Johann Sebastian Bach, J. Cats, etc5. Além disso, uma revisão dos escritores preocupados com o lugar da arte na cosmovisão Calvinista ou Reformada, mostra que eles sempre evitaram qualquer forma de estetismo6 enquanto concediam arte a um lugar definido, mas modesto; aqui nós também encontramos respeito pela consistência e beleza, mas anulação de toda ostentação.


Esta é a introdução, ou primeira página, do livro Calvinism and art, an annotated bibliography (Calvinismo e arte, uma bibliografia anotada)”, publicado em: M. Hengelaar-Rookmaaker (ed.): H.R. Rookmaaker: The Complete Works 4, Piquant – Carlisle, 2003.

Notas: 
1 Não há referências a estes, mas acredita-se ser artistas ou críticos de arte.
2 Pastor reformado que também foi ministro da Holanda, escreveu vários livros acerca do calvinismo relacionado a outras coisas.
4 Teórico de arte Alemão, também pintor, ilustrador, gravador e matemático.
5 Artistas alemães da referida época.
6 Escola literária e artística de origem anglo-saxônica, que se propõe reconduzir as artes às suas formas primitivas.

Texto traduzido pelo jovem diácono Marcus Lopes, membro da Igreja Presbiteriana de Cuiabá, estudante de Psicologia na UFMT e, minha ovelha. Os grifos são meus.

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