segunda-feira, 26 de março de 2012

A tristeza e o vazio de não se crer em nada


No final do ano 2000, Rubem Alves, conhecido teólogo, filósofo, psicanalista e escritor, em entrevista concedida à Revista Isto É, de 20/12/2000, fez a seguinte confissão: "Hoje, as ideias centrais da teologia cristã em que acreditei, nada significam pra mim: São cascas de cigarras, vazias. Não fazem sentido. Não as entendo. Não as amo. Não posso amar um Pai que mata o Filho, para satisfazer sua justiça".

Rubem Alves nasceu num lar cristão protestante, sendo criado piedosamente pelos pais e sendo assíduo aluno da Escola Bíblica Dominical. Alves se graduou tem teologia pelo histórico e tradicional Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas/SP e doutorou-se em filosofia pelo famoso Princeton Theological Seminary, nos EUA. Foi pastor presbiteriano durante muitos anos, ministrando a Palavra de Deus aos crentes, além de administrar os sacramentos bíblicos do Batismo e da Ceia do Senhor.

Rubem Alves hoje é um apóstata da fé cristã. Mergulhou-se em frustrações e decepções, deixando seu coração azedar em relação a tudo que envolve o nome de Deus. Assim como Ricardo Gondim, questiona a inércia divina em relação à tragédias naturais e mortes de "inocentes". Falando sobre sua obra "Livro Sem Fim" (2a ed., 2002, Loyola), Alves justifica sua indignação da seguinte maneira: "Não, não estou com raiva de Deus, porque ele não existe. Se existisse, ia fazer alguma coisa".

Rubem Alves, e o retrato falado da incredulidade e da frustração

Quão triste e vazio é o indivíduo que não crê em nada! Quão sombrio é o seu cegado e empedrenido coração! Não ter fé é não ter esperança. É viver sem expectativas positivas. É não ter certeza de nada além do desespero. É crer no domínio do caos. É lançar as poucas fichas que restam na utópica ideia de que o ser humano pode dar jeito em tudo com o mínimo de força de vontade. Horatius Bonar dizia que "toda incredulidade é a crença numa mentira". Quão triste é isso!

Não crer em nada é viver alheio da esperança de uma vida futura plena. Não crer em nada não é viver, mas sobreviver à própria frustração. Não crer em nada é se entregar ao pessimismo. Não crer em nada é abraçar o fatalismo. Não crer em nada é dar as costas para novas possibilidades. Não crer em nada é assumir a postura de Tomé - enquanto todos se alegravam com a certeza da ressurreição de Cristo, ele preferia mergulhar em sua árida desconfiança.

Não crer em nada parecer ter virado moda nos tempos pós-modernos. Enquanto muitos estudiosos apostavam que o advento da pós-modernidade traria uma nova espiritualidade, regada a misticismos e mirabolâncias doutrinárias, além disso, o que se vê é uma crescente do pensamento ateísta impulsionada por personalidades ilustres como o inglês Richard Dawkins e outros que, frustrados com a religião, abraçaram ideias e ideais céticos.

Em tempos onde o ceticismo cresce, junto com ele cresce a tristeza, cresce o vazio, cresce a frustração, cresce a insatisfação, cresce a angústia, cresce o desespero, cresce o azedume e o mal humor, cresce a insignificância de toda pseudo-sabedoria terrena frente a tantas impossibilidades reais e possibilidades utópicas.

Quando Tomé foi confrontado com sua própria incredulidade, Jesus o desafiou dizendo: "...não sejas incrédulo, mas crente" (Jo 20.27). Jesus chamou Tomé para se ver livre da tristeza e do vazio de não se crer em nada. Ele o chamou a viver livre de frustrações e do desespero de ter que amanhecer cada dia sem o mínimo de esperança. Jesus ofereceu a Tomé uma nova oportunidade de viver a graça e o amor redentor de Deus.

Assim como Tomé, que foi discípulo direto de Cristo, um dos 12 do colégio apostólico, testemunha ocular de milagres e de sermões e lições inesquecíveis, Rubem Alves também viveu seus dias de piedosa atividade cristã, pregando a Palavra e vivendo dia a dia debaixo dos cuidados do Supremo Pastor. No entanto, ambos tiveram seu momento de queda. Ambos perderam a fé que movia seus corações e a esperança que lhes fortalecia.

Tomé voltou atrás e retomou o caminho que o Senhor lhe havia traçado. Segundo a tradição, ele foi um primoroso missionário na Índia, tendo sofrido o martírio naquele país. Rubem Alves ainda permanece em sua incredulidade. Em 2010, ele lutou contra um câncer no estômago, tendo sofrido uma cirurgia para remover o órgão. Também trocou uma válvula do coração e teve um sério problema de coluna. Apesar disso, Rubem Alves não se rendeu ao Senhor. Diante do sofrimento, ele permanece firme em sua alienação: “Fé para curar o câncer eu não tenho. Sabe o que é fé? É estar no avião com um paraquedas nas costas e de re pente dar um salto no abismo, acreditando que o paraquedas vai abrir”.

Quão triste e vazio é viver sem crer em nada! Quão terrível é abrir os olhos a cada manhã, sem a certeza consoladora da presença e do cuidado paternal de Deus! Quão triste é ter que acreditar tão somente em si mesmo! Quão triste e vazio é se alienar daquele que pode transformar nossa mais densa escuridão em belo raiar matinal. Que O Senhor nos mantenha sempre firmes em Suas poderosas mãos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...