segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Pacto com o diabo ou "baboseira gospel"?



É muito comum escutar nos cultos e nas escolas bíblicas de muitas denominações que essa ou aquela marca é do "demo", que fulano e sicrana venderam a alma para o "cão" para alcançarem o sucesso com seus CDs e programas de TV ou empresas que fizeram um pacto com o demônio para tornar o seu produto rentável e bem aceito pelo público e em troca difundir o anti-cristo e o seu reino. Algumas afirmações chegam a ser absurdas e muitas até hilárias, chegando ao ponto de alguns lideres mais exaltados exigirem que seus fiéis queimem suas roupas de determinada marca ou deixem de consumir um determinado produto. Parece até piada (de mau gosto)!

Não estou afirmando aqui que isso não exista ou que eu não creia que haja pessoas e empresas que façam tais pactos, apenas ando muito preocupado com a enxurrada de "baboseiras gospel" que tem invadido nossas igrejas, nossos cultos e nossos lares, sem que os seus propagadores (pastores, lideres, professoras de escola dominical, etc.) tenham o devido cuidado de estudar e pesquisar o assunto antes de sair disseminando bobeiras e dando falsos testemunhos a "torto e a direito", sendo alvos de chacotas por não conseguirem provar o que estão dizendo e desacreditados ao depararem com algum fiel ou aluno mais esclarecido que questionam tais afirmações. 

Esses irmãozinhos mais esclarecidos são sempre tachados de incrédulos e acusados de estarem cegos e influenciados pelo "poder do inferno" contido nas roupas da tal marca que estão usando ou nos produtos que tem guardado na geladeira, os quais foram "oferecidos e dedicados ao capeta" e que se recusam a queimar ou jogar fora sem uma abordagem mais profunda e sólida, baseadas em fatos e dados, não apenas em histórias contadas por beltranos ou publicadas em sites duvidosos (sempre sem a indicação da fonte ou do autor) ou nas imaginações férteis de algumas pessoas que espiritualizam e demonilizam/diabolizam (se não existem essas palavras, então perdão, pois acabei de inventar!) tudo.

Gostaria de apresentar alguns exemplos de tais "baboseiras gospel" que já se tornaram "cult" no meio evangélico brasileiro:

1) Maionese Hellmann's

Possível pacto:
O nome Hellmann's significaria "homens do inferno", onde Hell = inferno e mann's = homens.

Refutação:
a) Homem em inglês é man (singular) e homens é men (plural) e não mann's. Outro detalhe está no apóstrofo (') antes da letra "s" ('s) que na língua inglesa indica propriedade ou posse, sendo assim Hellmann's significa "do Helmman".

b) O nome Hellmann's é devido ao sobrenome do imigrante alemão Richard Hellmann que, em 1903, chegou aos Estados Unidos e dois anos depois, inaugurou sua delicatessen em Nova York. O grande diferencial era o molho que Hellmann colocava nas saladas prontas que vendia. Este saboroso molho era a própria maionese fabricada por sua esposa.

Fica claro que a tradução "homens do inferno" é inaceitável, tanto pela semântica da língua inglesa, como por ser um sobrenome de origem alemã (toda a família Hellmann são "homens do inferno"?). Pronto, já não precisa mais jogar fora o seu pote de maionese, a não ser que esteja precisando de um regiminho.

2) Fido Dido

Possível pacto:
Fido Dido significa, num dialeto francês antigo, algo equivalente a "filho do diabo". Alguns sites alegam que o guri que estampa as camisetas da moçada seria uma imagem do movimento nova era e significaria o desleixo e a irresponsabilidade da juventude dos últimos tempos.

Refutação:
Fido Dido (pronuncia-se Faido Daido) é um personagem gráfico alto, magricela e com fios de cabelo espetados, trajando tênis, bermuda e camiseta que traduz o jeito excêntrico e descompromissado dos adolescentes. Foi criado em 1985, num guardanapo de bar em Nova York e é uma licença americana que representaria um jovem consumidor.

O primeiro nome viria do latim fidelis (fiel), e Dido foi uma rainha de Cartago, cidade rival de Roma antiga que tinha espírito jovem e alegre.

Fido Dido já foi usado para apoiar campanhas de grandes marcas de consumo, como fez a então Pepsi-Cola Brasil, em 1992, ao relançar no país o refrigerante sabor limão Seven Up, seguindo estratégia global. A empresa esperava conquistar 15% do mercado total de refrigerantes no Brasil em um ano com o apoio do personagem mas não funcionou (será que o tal pacto com o "filho do diabo" falhou?).

Afirmam que Fido Dido é uma expressão de um dialeto francês antigo, equivalente a "filho do diabo" só que ninguém conhecido (e respeitável) assina ou abona essa informação. Além disso, ninguém respeitável conhece o tal dialeto (?!) francês, até porque a língua francesa superou há séculos seus dialetos. Portanto, não precisa queimar e nem deixar de comprar suas roupas onde tem o tal mancebo estampado (a não ser que seja pirata, ok?!), pois trata-se de mais um boato entre tantos nos arraias evangélicos.

3) Hello Kitty

Possível pacto:
a) A palavra Hello, em inglês quer dizer olá. A palavra Kitty, é de origem chinesa e quer dizer demônio. Logo, Hello Kitty quer dizer: "olá demônio".

b) A desenhista da Hello Kitty estava grávida e o médico afirmou que o bebê teria várias deformações. A criança nasceu com tudo perfeito, mas com o passar dos dias foi percebido que seria uma criança muda, por isso em homenagem a sua filha, ela fez a Hello Kitty, sem a boca, mas perfeita, e linda.

c) Outra versão da história acima é que a Hello Kitty não tem boca, devido ao caso da garotinha ter nascido com um câncer na boca.

d) A Hello Kitty é um símbolo da nova era. A nova era é uma seita que vai contra todos os princípios de Deus. Ela busca criar símbolos "bonitinhos" para agradar a todos.

e) Hello Kitty vem da palavra "elohit" que em africano quer dizer demônio.

Refutação:
A Hello Kitty (Harokiti) foi criada originalmente pelo designer Ikuko Shimizu em 1974 (e não pela tal mulher grávida que deu à luz uma garotinha sem boca - logicamente muda - corroída por um câncer) para a empresa japonesa Sanrio. O personagem é a figura de uma gata branca com traços humanos que usa um laço ou flor na orelha esquerda e não possui boca. Nos desenhos animados Hello Kitty tem uma boca. Repararem que ela também não tem sobrancelhas (será outra pegadinha do tinhoso?!).

A bonequinha em forma de uma gatinha recebeu o nome em inglês porque a cultura britânica era popular entre as garotas japonesas na época da sua criação. O nome Kitty veio de um dos gatos que Alice criava no livroThrough the Looking-Glass de Lewis Carroll e não do idioma chinês ou do tal africanês (acho que inventei outra palavra... estou ficando bom nisso!). Aliás, sobre o suposto nome africano, que significaria "diabo", gostaria que me explicassem, apenas, em qual língua/dialeto foi encontrada tal expressão, pois na África existem centenas de línguas e dialetos. Não existe a língua "africana"!

Hello Kitty significa simplesmente "Olá, gatinha", então meninas, não precisam mais ficar com medo da mudinha vir te pegar de noite.

4) Coca Cola


Possível pacto:
Pegando o logotipo da Coca-Cola e virando ao contrário lemos a mensagem "alo diabo".


Refutação:
Essa é clássica! Precisa muita imaginação e uma tremenda vontade de "enxergar" o que se quer ver (ou o que querem que veja) aqui. Eu já virei o rótulo de tudo quanto é jeito e não consigo ver nada (será que fui cegado pelo inimigo?!) Confesso que até a palavra "alo" eu consigo identificar (devo estar apenas meio cego) mas o nome do "diacho" tá difícil de achar. Imaginação nunca foi o meu forte!


No lugar onde teria que aparecer o tal nome do diabo, a letra "d" não existe, nem a "i" e nem a "b". Eu, pelo menos, não consigo ver e nem identificar aquelas letras (devem ser do tal dialeto africanês ou francês!). Além do mais, Coca-Cola é uma marca americana vendida no mundo todo, então qual seria a vantagem para o "caramunhão" de se escrever uma mensagem subliminar em português?! Só se os donos da Coca-Cola estiverem de olho no mercado brasileiro por causa da concorrência da Dolly (vou virar o rótulo da Dolly também para ver se acho alguma coisa!)

Conclusão
Poderia estender esse artigo o quanto eu quisesse, pois exemplos de baboseiras gospel não faltam: a cruz invertida dentro de uma moto de marca famosa, uma fábrica de produtos de higiene pessoal que financia o movimento nova era, uma linha de perfumes bastante conhecida que fez um pacto para vender mais, e quem foi criança na década de 80 (assim como eu) irá se lembrar bem do boneco Fofão que "tinha um punhal dentro do corpo e que de noite tomava fôlego e matava as criancinhas desamparadas e entregues em seu soninho angelical, desferindo cruéis e mortais punhaladas". Essa história do Fofão começou como uma piada do filme Chuck e caiu na boca dos abençoados irmãos e irmãs que tem o "dom de línguas compridas" e se espalhou pelas igrejas de todo o país.

Amados pastores, lideres e professoras, tomem muito cuidado com o que vão pregar, ensinar e dizer nos seus púlpitos e classes. Estudem, analisem, ponderem. Não acreditem em tudo o que ouvem ou lêem, especialmente na Internet. Precisamos ter muito cuidado com esses tipos de informações que correm no movimento gospel, sempre injuriando e difamando sem provas algumas marcas ou empresas, atribuindo seus serviços e produtos à supostos pactos com o diabo. Isso é muito comum entre os evangélicos.

A Bíblia diz que nossa oração purifica as coisas que usamos (Cl 2.20-23; 1Tm 4.4-5) e nos aconselha a examinar tudo, retendo o que é bom. (I Ts. 5:21).

3 comentários:

  1. eu consegui ver o i e b de " Diabo ", eu mostrei para minha amiga aqui e ela também conseguiu ver

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  2. O Fofão tem sim uma adaga dentro do pescoço. Mas é de plástico. Comprovei pessoalmente.

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