Por Antognoni Misael
A história da
música na igreja já passou por diversos estágios até ter se tornado o que de
fato é no século XXI. Decerto esta história é bem mais antiga do que pensamos –
a saber, que Deus fez uso da música desde o princípio do mundo e até hoje
continua se agradando de suas variedades. Uma versão da Bíblia, em espanhol, de
Casiodoro de Reino, de 1969, apresenta a seguinte redação de Ezequiel 28.13:
“Teus tambores e flautas estiveram preparados para ti no dia da Tua criação”.
Não obstante, a primeira citação relacionada a música nas Escrituras acontece
com Jubal, filho de Lameque, tido como “o pai de todos os que tocam harpa e
flauta” (Gn 4:21); outras passagens relatam sobre Moisés e o povo de Israel
quando cantavam (Êx 5.1); Miriã, irmã de Arão e Moisés, que além de cantar e
tocar também dançava (Êx 15.20-21); os cânticos de Davi (2Sm 22.1), e a exímia
arte de compor canções, do seu filho Salomão (1Rs 4.32); Jesus cantando com
seus discípulos (Mt 26.30), e o episódio de Paulo e Silas na prisão louvando ao
Senhor (At 16.25).
Certamente na Bíblia não encontramos um livro ou capítulos específicos
sobre música, assim como não existe nenhuma contribuição relacionada a técnica,
ao sistema tonal, ritmos, harmonizações, técnica vocal, etc. Alegoricamente a
Bíblica deixa implícito que há outras fontes de pesquisa, estudo e
sistematização adequadas para um preparo correto e coerente para a função do
músico na eclésia, visto que a música (como ciência e arte) é uma cultura
mutável de acordo com etnias e lugares e seria ilógico deixar para a Igreja um
padrão estético pré-moldado – sem falar que a Bíblia não é um fonógrafo.
Decerto, o que aconteceu foi um acompanhamento natural da história da
música na igreja com a própria História da Música Ocidental – tratando-se,
claro, de ocidente. Não precisamos de longos estudos pra entender que quando o
Rock, a Balada e o Pop, (e em menor grau o Blues, Jazz, Samba, Forró, etc.)
entraram definitivamente nos repertórios congregacionais das igrejas brasileira
na década de 90, só assim o fizeram porque já estavam normalizados na Música do
Ocidente. Isto se torna um problema na medida em que não sabemos posicionar
nossos conceitos por desconhecer nosso próprio passado, tanto como igreja,
quanto como músico.
Atualmente muitos dos que compõem a comissão de frente nos cultos
solenes adoram serem chamados de levitas, de serem respeitados, e/ou até vistos
como um “canal sagrado” de bênçãos e unções durante as ministrações. Na
verdade, o que percebo de perto – como músico “deslevitado” que há 14 anos vive
ecoando acordes dentro e fora da igreja – é um certo relaxamento por parte de
muitos músicos e líderes envolvidos com a área.
Não há dúvidas de que é importantíssimo na vida de um músico cristão o
zelo pela assídua frequência no templo, oração e leitura bíblia. Contudo ainda
não é tudo! Ser músico a serviço de Deus é algo que abarca vários detalhes
imprescindíveis (principalmente nos dias de hoje onde a música gospel, parece
não ter nada do Gospel) para que “verdadeiro adorador” seja um adorador da
Verdade.
Fiz algumas observações que considero importantes para os músicos que
ministram na igreja:
1)
Além de uma vida de adoração, devoção e piedade, busque se aprofundar no estudo
musical. Como alguém pode dar o melhor a Deus se não busca aperfeiçoamento
técnico? Saiba servir também com um bom instrumento, com belos acordes, ritmo e
uma excelente afinação. Isso seria o Básico!
2)
Leia bastante sobre a história da igreja e sobre história da música para que
você se situe no tempo e espaço. Por exemplo, pra se ter uma idéia, foi apenas
no século XVI, na Alemanha, que a igreja protestante liderada por Lutero,
desenvolveu a tradição de compor hinos populares cantados em alemão na forma
coral (substituindo o cantochão medieval em latim). Então após reforma, tal
formato de hinos passou por um processo de “canonização” evangélica, repelindo
qualquer aceitação de outras canções senão aquelas dos hinários, entendidas
como “as músicas inspiradas por Deus”. O curioso é que essa tradição européia
chegou até o Brasil através da colonização e resistiu, a grosso modo,
incrivelmente até os idos de 1970.
3)
Conheça as funções normais da música e desconstrua a ideia de que ela é sinônimo
de adoração. Além de
arte, Música é linguagem. Na cultura africana ela tinha uma função especifica
de comunicação, o toque dos tambores serviam para um aviso ou chamamento; o que
da mesma forma ocorre na ordem unida do militarismo em geral. Atualmente ela
tem utilidades peculiares como fundo musical, jingle de comerciais,
movimentação sonora para shoping, etc. Na igreja ela pode ser utilizada para:
louvor, adoração, comunicação do evangelho, confraternização, entretenimento,
casamentos, ensino, testemunho. Ou seja, é bom que o músico saiba qualificar
cada música na função especifica, de forma oportuna com os momentos de culto.
4)
Procure entender como surgiu a verdadeira música estilo Gospel. Com a segregação racial, no início do século
XIX algumas igrejas negras (Batista, Metodista, dentre outras) desenvolveram a
música Gospel, que foi resultado de uma miscelânea entre as canções de trabalho
(worksong’s) entoadas pelos negros escravos, músicas folclóricas, blues and
Jazz, decorrendo em características congregacionais com envolvimento alegre e
emotivo entre os fieis. No Brasil, por volta dos anos 90, o Gospel surge como
uma marca patenteada por um clã específico, e legitimada por vários grupos que
notaram o potencial rentável do mercado evangélico. Hoje, ser “Gospel” no
Brasil é ser Pop, ser Astro.
5)
Procure conhecer muita música cristã para servir a igreja local com um repertório
edificante. Escute VPC, Grupo Elo, Logos, Sérgio Pimenta, João Alexandre, Jorge
Camargo, Bené Gomes, Adhemar, dentre tantos, e observe o que ela traz de diferente
do Gospel de hoje. Sendo assim, nunca avalie uma canção pela popularidade dela,
mas faça uma análise estrutural: letra, mensagem, melodia, harmonia, ritmo,
respaldo bíblico. Para que a análise seja bem sucedida não esqueça de que o
conhecimento teológico, crítico-musical precisam estar bem afiados.
Estes pequenos conselhos não são frutos de excesso de conhecimento, mas
de uma longa aprendizagem, cheia de acertos, mas também repleta de erros. O que
não podemos fazer é desistir de sermos melhores para Deus e para as pessoas.
(1Co 10.31).
Fonte: Púlpito Cristão
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