Por Bispo Walter Mcalister
Soube hoje que as Igrejas Cristãs Nova Vida, da qual sou o Bispo Primaz,
foram notificadas de que teriam de pagar direitos autorais pela execução de músicas
de “louvor” nos seus cultos. Cada uma de nossas igrejas ficaria, assim,
responsável por declarar o número de membros e a frequência aos seus cultos,
para que fosse avaliado o imposto a ser pago ao Christian Copyright Licensing
International (CCLI), sociedade que realiza a arrecadação e a distribuição de
direitos autorais decorrentes da execução pública de músicas nacionais e estrangeiras.
Por sua vez, o CCLI repassaria o valor devido aos compositores cujas músicas
estão cadastradas.
São poucas as vezes em que me vejo sequestrado por um assunto do momento
aqui no blog. Tenho como norma pessoal não me deixar levar pelas “últimas”. Já
há bastante alvoroço em torno de assuntos efêmeros e não precisam da minha voz
para somar à confusão instaurada por “notícias” e controvérsias. Não obstante
essa regra que tento seguir, não posso me calar ante esse fato. Já deixei
passar algumas horas até que a minha revolta se acalmasse, para que, no seu
lugar, pudesse me expressar com clareza e me reportar às Escrituras como regra.
Pois, em meio ao transtorno, ninguém se contém e acaba por pecar pelo excesso.
Isso não quer dizer que me sinta menos convicto sobre o que tenho a dizer, mas
quero realmente trazer uma perspectiva lúcida.
Comecemos pelo que constitui o direito autoral e o porquê da sua existência.
Seria justo que alguém lucrasse pelo trabalho, a inspiração e a arte de outro
sem que o autor da obra participasse dos lucros? Certamente que não. Cada
emissora de rádio, show ou outro tipo de empreendimento com fins lucrativos
deve prestar a devida parcela do seu lucro a quem ajudou a produzir essa arte.
Por outro lado, a Igreja é um empreendimento com fins lucrativos? Não –
segundo a definição do próprio Estado brasileiro. Ela goza de certos
privilégios, na compreensão de que a sua atividade é religiosa, devota e
piedosa e, sendo assim, sem fins lucrativos. Que muitos “lucram” em nome da
Igreja ninguém duvida. Mas, em termos estritamente definidos pela legislação,
não é um empreendimento que tenha como finalidade o lucro.
Louvar a Deus é uma atividade que gera rentabilidade? Também não. Quando
cantamos ao Senhor, estamos nos expressando a Deus em sacrifício santo e
agradável a Ele (se bem que não caem nesta categoria muitas das músicas que
doravante serão objeto de taxação, por decreto-lei). Mas, para manter o fio da
meada desta reflexão, suponhamos que as músicas adocicadas, sem fundamento em
qualquer real princípio cristão, emotivas e, em alguns casos, passionais (para
não dizer sensuais) sejam realmente louvor (algo que tenho tentado ensinar a
nossa denominação que não são). Cantar essas músicas traz lucro para a igreja?
A resposta é não. A igreja não lucra. Não há um centavo a mais caindo nas
salvas porque cantamos uma música de uma dessas cantoras gospel da moda em vez
de Castelo Forte. É possível fazer um culto fundamentado apenas nas músicas
riquíssimas do Cantor Cristão e da Harpa Cristã (para não falar nos Vencedores
por Cristo, cuja maioria das canções não recai sobre este novo decreto-lei).
Esses cantores e essas cantoras têm o apoio de empresários da fé. Homens
que também lucram absurdamente às custas da boa-fé de pessoas a quem prometem
uma vida de lucro pelo seu envolvimento. Não me surpreende ver a lista de
“notáveis” que apoiam essa iniciativa.
Agora, esses cantores que se venderam para emissoras de televisão, que ganham
fortunas nas suas turnês “gospel” e pela venda de incontáveis CDs e DVDs, não
estão satisfeitos. Querem mais. Querem “enterrar os ossos”. Tornaram-se
mercadores da fé, e com essa última cartada, suas máscaras caem por terra. Que
máscaras? As que fazem com que acreditemos que eles realmente creem que o culto
é para Deus somente. Para eles, a igreja não passa de fonte de lucro. A igreja
não passa de um negócio. Sim, porque, por essa ação, afirmam não acreditar que
a igreja seja uma assembleia de sacrifício. Para eles, a igreja é uma máquina
de dinheiro. Sua eclesiologia é clara. Suas lágrimas de comoção são teatro.
Seus gestos de mãos erguidas não passam de encenação.
A despeito do meu repúdio por esse grupo de músicos “cristãos”, fico
grato a eles por uma razão. Tenho tentado ensinar a denominação que lidero a
ser mais criteriosa na escolha das músicas cantadas nos cultos. Por força da
popularidade desses “superastros do louvor” a pressão da juventude e dos
músicos da igreja tem sido quase insuportável. Então cantam as músicas sem
devocionalidade real deles e delas para o enlevo de pessoas que nem precisavam
confessar Jesus para cantá-las com comoção. Graças ao mercantilismo dos tais,
vou emitir uma circular para as nossas igrejas em que instruirei todas a pagar
os direitos autorais devidos caso queiram insistir em usar as referidas músicas
da moda em seus cultos.
Os que não querem fazer parte desse mercado de rapina receberão uma
lista compreensiva de músicas que continuam sendo de domínio público, inclusive
as que compus e pelas quais nunca recebi nem quero receber um centavo. Graças a
Deus, são os bons e velhos hinos que têm conteúdo e substância, confissão e
verdadeiro testemunho do Evangelho. Há centenas de hinos antigos que vamos
tirar das prateleiras e redescobrir. Podemos aprendê-los e retrabalhá-los para
torná-los atuais aos nossos dias, com arranjos interessantes. Músicas escritas
por santos e não por crianças. Músicas escritas para a glória de Deus e não
para lucro sórdido. Sim, falei sórdido. Pois os atuais já lucraram com o que é
legítimo. Agora vão atrás do resto. É um gospel de rapina. Sinto-me na
necessidade de tomar um banho, pois essa história me forçou a passear pelo
lamaçal onde esses chafurdam para encher a própria barriga – que é o seu deus,
afinal.
Que bom que já me acalmei, pois realmente tinha vontade de dizer muito
mais.
Na paz,
+W
Fonte: Blog do Bispo Mcalister
Graça e paz de nosso Senhor Jesus Cristo.
ResponderExcluirLouvo a Deus por saber que existem pessoas que ainda pensam dessa maneira. Que Deus continue te usando meu querido.