Por João Calvino
1. Não devemos insistir em uma perfeição absoluta em
nossos companheiros cristãos por mais que lutemos por consegui-la nós mesmos.
Seria injusto requerermos uma perfeição evangélica
antes de constatarmos se uma pessoa é verdadeiramente cristã.
Se instituíssemos uma norma de perfeição total para
os cristãos, não existiria nenhuma igreja, posto que todos nós estamos muito
longe de sermos verdadeiramente cristãos ideais. Afinal, teríamos que recusar a
muitos que só podem fazer um progresso lento.
2. A perfeição deve ser a meta final a qual nos
dirigir e o propósito supremo em nossas vidas.
Não é justo que atemos um compromisso com Deus, em
que tratemos de cumprir parte de nossas obrigações omitindo outras, segundo
nosso gosto e capricho.
Antes de tudo, o Senhor deseja sinceridade em Seu
serviço e simplicidade de coração, sem engano nem falsidade.
Uma mente dividida está em conflito com a vida
espiritual, posto que esta implica uma devoção sincera a Deus em busca de
santidade e retidão.
Ninguém, nesta prisão terrena do corpo, tem
suficiente força própria para seguir adiante com uma constante vigilância e cuidado.
Ademais, a grande maioria dos cristãos padece de uma debilidade tal que se
desviam ou se detêm em seu progresso espiritual, tendo em conseqüência avanços
muito lentos e escassos.
3. Deixemos que cada um proceda de acordo com a
habilidade que lhe foi dada e continue assim, a peregrinação que tem empenhado.
Não há homem tão infeliz e inapto e que, pouco a
pouco, não tenha conseguido um pequeno progresso.
Não cessemos de fazer todo o possível para irmos
incessantemente mais adiante no caminho do Senhor; e não nos desesperemos por
causa de nossas escassas conquistas.
Ainda que não cheguemos no nível espiritual que
esperamos ou desejamos, nossa labuta não está perdida se é que o dia de hoje
ultrapassa em qualidade espiritual o dia de ontem.
4. A única condição para o verdadeiro progresso
espiritual é a de que permaneçamos sinceros e humildes.
Mantenhamos em mente nossa meta final e avancemos
sobre ela com toda nossa vontade.
Não caiamos no orgulho nem nos entreguemos às
paixões pecaminosas.
Exercitemos com diligência para alcançarmos uma
norma mais alta de santidade, até que tenhamos chegado ao melhor de nossa
qualidade espiritual, na qual devemos persistir ao longo de nossa vida. Somente
chegaremos à perfeição absoluta quando, libertos deste corpo corruptível,
formos admitidos por Deus em Sua presença.
Extraído do livro de João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã (São Paulo: Novo
Século, 2000), pp.25-27.
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