quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Porque acredito na doutrina da Eleição


Muito bom e esclarecedor este texto do Rev. Marcelo Lemos, publicado em seu blog "Olhar Reformado". Diante de mais uma bombástica declaração do Pr. Ricardo Gondim, que chamou aqueles que creem na eleição de "malditos", e equiparou as narrativas bíblicas à mitos e vultos históricos (veja aqui o texto de Gondim), a leitura deste post se faz apropriada e relevante.



Porque acredito na doutrina da Eleição


Percebo que algumas pessoas se admiram quando descobrem que aceito a Doutrina da Eleição. “Como assim?”, elas perguntam-me. De fato, boa parte delas nem sabe do que se trata a Eleição, e seu assombro aumenta quando lhes explico o tema. “Mas, e como fica o livre-arbitrio?” “Que história é essa de não perder a salvação?” “Que absurdo! Você está dizendo que Cristo morreu apenas pelos eleitos!”. Enfim, já me acostumei a ver inúmeros pontos de interrogação nos olhos das pessoas quando as confronto com minha fé na Doutrina Bíblia da Eleição. Mas, como posso acreditar em tal doutrina? No artigo de hoje quero listar algumas das minhas razões.


Por causa da soberania de Deus. Deus é completamente soberano. Este é o ensino claro de toda a Escritura. Alguns cristãos parecem compreender a Soberania de Deus apenas como algum tipo de “influência”. É como se pensassem em Deus como alguém com grande poder de persuasão, mas sempre a mercê as escolhas livres dos homens. Em termos práticos, na esfera da salvação, Deus sonha salvar todo e cada ser humana que já veio ao mundo, mas, aberto a decisão de cada indivíduo, encontra-se incapacitado de satisfazer tal vontade, contentando-se em salvar apenas aqueles que respondem positivamente aos seus incansáveis apelos.

Deus não é um grande maestro, Ele é criador e dono do mundo, agindo neste mundo de modo absolutamente livre, e, portanto, soberano. Deus é dono de nossas vidas, de nossos destinos; é Ele quem decide nossa salvação ou condenação. Muitos discordam deste posicionamento, mas é um Deus absolutamente soberano que as Escrituras nos apresentam:

“... Ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4.35)

“O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Pois o Senhor dos exércitos o determinou,  e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar a trás?” (Isaías 14. 24,27).

“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2)

“Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos” (Salmos 135.6).

Os cristãos se alegram com tais declarações, mas nem todos nós estamos dispostos a considerar seriamente tais declarações bíblicas quando pensamos em suas implicações para a doutrina da salvação. Parece que recusamos aceitar que é Deus, e não nós, quem tem a última palavra quanto ao destino eterno dos homens. A Bíblia, porém, não faz tal distinção: Deus é soberano em tudo, inclusive sobre a Salvação dos homens. Ele decide quem será salvo, e quem será rejeitado. 

Se somos salvos, é porque assim Deus decretou: “Nele, digo, no qual também fomos feito herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Efésios 1.11). Mas, e quando o homem é rejeitado por Deus? Também se deve ao decreto soberano de Deus, vejamos: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?” (Romanos 9.20,21).


Por causa da Morte Vicária de Cristo. Acredito que o ensino bíblico a respeito da morte Cristo é bem pouco compreendido. Que significou o ato de Cristo na cruz? Alguns parecem compreender aquele sangue vertido como sendo uma oferta de Cristo a Deus em favor de todos os homens, e que não garantia a salvação de alguém especifico, mas deixou a Salvação a critério dos indivíduos. Posto de outro modo: ensina-se que Cristo fez um depósito na conta bancária de todos os homens, um deposito capaz de salvar as dividas de todos os seres humanos; porém, efetivamente, nenhuma dívida foi paga, até que o individuo tome posse desse deposito, pela fé.

O problema com tal entendimento é que, segundo a Escritura, a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo não foi um ato representativo, mas sim substitutivo. Em outras palavras, Cristo substituiu pecadores na Cruz; daí sua morte ser chamada Vicária. Mas, se é verdade que Cristo substituiu pecadores, implica que os pecados daqueles que foram por ele substituídos estão completamente perdoados, suas dividas completamente apagadas. Se Cristo pagou a dívida de alguém na Cruz, tal pessoa não deve mais. Que diz a Bíblia? Será que Cristo realmente substituiu os crentes na Cruz? Será que Ele, de fato, pagou a nossa dívida, sofreu a nossa morte, padeceu o castigo que era nosso?

“Verdadeiramente, ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos trás a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de todos nós... pela transgressão do meu povo ele foi atingido... as iniquidades deles levará sobre Si... derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre Si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Isaías 53: 8-12).

O quadro da Crucificação pintado por Isaías é épico e profundamente teológico. Ele não nos fala de um Cristo que fez algo bom pelo homem, e deixou que cada homem aproveitasse ou não os benefícios de Sua Morte. Muito pelo contrário, a cena descrita por Isaías nos fala de um Cristo que com sua morte efetuou e tornou coisa garantida os benefícios da Sua Morte. “Ele tomou sobre Si nossas enfermidades”. Não foi algo que Cristo perguntou se queríamos que Ele fizesse; ele simplesmente fez. “Foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades”. Quer dizer, o castigo reservado a nós, ele tomou sobre si. Ele pagou a nossa dívida. Aquilo que o Pai iria cobrar de nós, cobrou de Seu Filho. Ele perguntou se o queríamos como credor? Absolutamente, ele simplesmente pagou a nossa dívida, morreu a nossa morte, sofre o nosso castigo!

O quadro é ainda mais amplo, e ainda mais completo. “O castigo que nos trás a paz estava sobre ele, pelas suas pisaduras fomos sarados”. Onde o texto diz sobre Cristo oferecendo uma chance de o homem ter paz com Deus? Em lugar algum! O texto nos fata de um fato consumado: o castigo que nos trás a paz estava sobre Ele. Éramos inimigos de Deus, mas Ele consolidou a paz! Tudo isso é bem diferente daquele Cristo que alguns nos dizem estar implorando para que o homem não o deixe ter morrido em vão! Isso é bem diferente daquele Cristo que parece depender da vontade humana para, de fato, poder salvar um e outro. O Cristo no quadro pintado vividamente por Isaías, é um Senhor soberano, que fez tudo conforme quis, e que alcançou plenamente o objetivo que desejou: a salvação do seu povo!

Que Cristo fez na Cruz? Será que ele abriu uma nova opção para você escolher, ou ele, de fato, te salvou dos teus pecados? Foi a morte de Cristo algo genérico, ou um ato de amor que, efetivamente, saldou todas as dívidas do seus escolhidos? 

A Bíblia diz: 

“Cristo, nosso páscoa, foi sacrificado por nós” (I Coríntios 5.7)

“O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate por muitos” (S. Mateus 20.28). 

“Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (I Coríntios 15.3). 

“O qual se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai” (Gálatas 1.4). 

Estes textos nos falam de possibilidades, de ‘chance de salvação’, de um talvez? Ou, ao contrário, nos descrevem a Morte de Cristo como garantindo a salvação de modo absoluto e incontestável?

Se o leitor acha que a morte de Cristo apenas deu uma chance ao homem, pode seguir negando a doutrina da eleição. Este leitor pensará que Cristo morreu por todos, mas não salvou ninguém – pois é cada individuo que se salva, ao escolher por suas próprias forças acreditar em Jesus. Mas, se o leitor perceber que a morte de Cristo foi um pagamento pelos nossos pecados, então, deve abraçar a Doutrina da Eleição: uma vez que Cristo pagou as nossas dívidas na Cruz, a salvação não depende de nós mesmos, mas exclusivamente da Graça!


Por causa da incapacidade humana. A doutrina que a História apelidou de “calvinismo”, já que Calvino foi seu grande expositor, é um ensino que humilha o homem. Somos todos pretenciosos, e gostamos de pensar bem de nós mesmos, e achamos que somos capazes de fazer por merecer aquilo que temos – inclusive nossa salvação. O “calvinismo” aceita a Doutrina Bíblia a respeito do homem. Na opinião das Escrituras não há nada de bom no homem: “Tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer; não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer!” (Romanos 3.9-12). Não há nada glamoroso na descrição bíblica de nós: “debaixo do pecado”, “injustos”, “ignorantes”, “malvados”, “inúteis”. Que sobrou de bom? Nada! Quando se trata de agradarmos a Deus, de fazermos Sua Vontade, somos completamente inúteis.

Mas, se não há nada de bom em nós, como aconteceu de sermos salvos? Alguém pode imaginar que foi inteligente, esperto, sábio e acertou em cheio ao crer em Jesus. Todavia, não é este o ensino das Escrituras: “Ele nos deu vida, estando nós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2.1-3)

Aquele que hoje é cristão não era melhor que os outros homens. Paulo deixa bem claro este ponto: “mortos em delitos e pecados”, “fazendo a vontade da carne”, “por natureza filhos da ira”. Assim, quando estávamos mortos, Ele nos deu vida. Se isso é assim, então, não foi algo bom em nós que comoveu Deus a nos amar: ele, por graça, nos amou e escolheu nos salvar. Tanto é assim, que Paulo continua “mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos!” (Efésios 2.4). Se erámos tão indignos quanto os demais, o que nos tornou diferentes? Paulo responde: “Mas Deus, por causa do grande amor com que nos amou... nos deu vida... pela graça sois salvos!”.

De modo que, se os homens são todos igualmente pecadores, e nascem todos igualmente incapazes de fazer por si mesmos a vontade de Deus, conclui-se que eu não poderia, por mim mesmo, me fazer agradável a Deus. Que eu poderia oferecer a Deus, se não tinha nada?  No entanto, sou salvo, e se a causa não pode estar em mim, está em Deus mesmo. Isso confirma a Doutrina Bíblia da Eleição. O próprio Cristo diz: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (S. João 15.16).     

Apresentei um resumo com algumas das razões da minha fé. Há outras razões, e muitos outros motivos doutrinários e hermenêuticos que merecem ser citados, porém, acima coloquei o que eu diria em uma conversação informal com alguém que me questionasse sobre minhas convicções sobre a Eleição. Em tempo oportuno retomaremos esse valioso tema das Escrituras.


Dica do Marcony, direto do Hospital da Alma

2 comentários:

  1. Hum... interessante, quer dizer que o seu deus é o "Master of puppets". Claro que como fã de rock, o nobre pastor conhece a letra da música. Comecei a ler o texto pensando, decerto de forma exacerbadamente auspiciosa, de que talvez meu desprezo pela doutrina da predestinação fosse um pouco mitigada. Mas nao passa de uma masturbação espiritual, procurando justificar idéias por si mesmas. É pastor, nao foi desta vez que Calvino me convenceu.

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  2. Meu caro Mazzoco, o nosso Deus não é um mestre de fantoches, como diz a letra do Metallica. O nosso Deus é o Deus todo poderoso, soberano e eterno. O Deus que conhece todas as coisa; o Deus que, como diz o apóstolo Paulo, tem a mente insondável e que não deve nada a ninguém. Seu linguajar um tanto quanto impróprio, só revela sua postura frente à questões que sobrepujam o saber e o conhecimento humano. É realmente, muito difícil para o homem aceitar uma doutrina que humilha o homem, tornando toda a sua suficiência em mera poeira. É mesmo difícil aceitar que nada somos, nada sabemos e nada podemos; é mesmo difícil reconhecer que, todas as nossas justiças são como trapos de imundície. Mas, é isso que as Escrituras dizem. Esse é o ensino claro da Palavra de Deus. Meu propósito não é de convencê-lo, mas expor a verdade tal como apresentada nas Escrituras.

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