Uma
plataforma para a nova geração subir e fazer a história acontecer! É o que
construiu o movimento gospel; deixando um legado a ser considerado pelos novos
artistas cristãos.Algumas respostas
possíveis são provocadas por sua força:
Primeiro: negação. Alguns artistas insistem em negar a
existência do movimento gospel (uma imbecilidade).
Segundo: adesão.
Desconsiderando os sinais para um novo rumo ou assumindo um ofício para
repetição ou renovação, alguns entram na onda gospel pois convivem bem com a
ambígua figura eclesiástica-artística, evangelística-teatral (uma eterna tensão
e mistura das “montanhas”: religião justificando artes e entretenimento).
Terceiro: crítica
psicótica. A doentia opinião que vê o movimento gospel como
uma grande conspiração religiosa, marqueteira e catequética de grande mal gosto
(uma generalização que não corresponde a realidade, por isso o adjetivo
“psicótico”).
Quarto: interpretação
histórica. É plausível considerar o movimento gospel como
fenômeno preparatório para o que se constrói hoje em dia: uma música brasileira
de raízes cristãs.
Digo que ele
prepara para o que é feito hoje em dia – tempo de simultaneidades – por alguns
motivos. Um deles: o
artista está cada vez mais independente do pároco, o que
não quer dizer separado, mas a figura do cantor vive de rendas provenientes de
estruturas artísticas, ou melhor, de engrenagens estabelecidas pelas regras do
entretenimento. Precisamos dizer que antes do movimento gospel não era assim;
ou o músico “vendia a alma ao diabo” cantando qualquer coisa em barzinho ou
vivia rodando igrejas recebendo ofertas. Cantores cristãos do seguimento
religioso, sobrevivem da bilheteria de shows, de festas religiosas organizadas
por igrejas e prefeituras, da venda dos discos e não mais precisam restringir
suas apresentações às famosas “oportunidades” dentro da liturgia de culto.
Sendo assim, é correto prever que ao ganhar independência financeira os
artistas religiosos, antes amparados pela renda da igreja local, ganhem também
mobilidade.Separando
melhor o show
do culto, o palco do púlpito, a tensão arte/religião continua apenas no nível das
ideias, ou no plano da justificativa: pois o
movimento gospel continuará a defender sua arte como objeto
didático-evangelístico, embora na prática grande parte do seu repertorio já é
para entretenimento. Embora legalmente, o novo texto da Rouanet
considere a música gospel como manifestação
cultural liberada para receber investimentos de empresários,
desde que seja promovida por entidades profissionais do ramo artístico. Embora
alguns continuem a negar tudo isso, embora… ah!
O Gospel é um
movimento que influenciou definitivamente a trilha sonora da renovação carismática, unido – ao menos esteticamente
– os dois ramos principais do cristianismo brasileiro: católicos e
protestantes. A canção religiosa evangélica, a centenária música sacra, sofreu
imensa transformação nesses últimos 40 anos descartando temáticas tão caras a
ortodoxia cristã, mas amplificando outros que permanecem tanto para artistas
bem sucedidos no processo quanto para aqueles que resolveram se abster do
movimento, criando outro mais restrito às igrejas históricas e círculos avessos
ao barulhão da mídia. Enfim, ninguém
que é crente e artista pode ignorar as transformações desse fenômeno que misturou
música, religião, templo, teatro e mercado.
Mas, há um passo
importante a ser dado pela nova geração: assumir
completamente sua vocação artística sem mais desculpas.
Pois tanto o gospel quanto os críticos dele, andam desculpando sua arte. Quem
pode dizer: sou artista e ponto? A nova geração. Essa mesma que reconhece a
herança do movimento e se coloca como pós-movimento, inseridos completamente no
universo das artes afim de cultivar um renascimento cultural tecido na
Esperança – missionais sim, panfletários não. Quem pode
interpretar a hinódia cristã anterior a marca gospel? Quem pode olhar para o
movimento a partir de outra perspectiva? A nova geração que foi encontrada pelo
Deus da história e anda fazendo arte na liberdade que existe Naquele que nos
libertou para apenas ser.
Deixa estar.
Marcos Almeida para a Ultimato
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