sexta-feira, 4 de maio de 2012

Interpretando o movimento gospel: A vida continua



Uma plataforma para a nova geração subir e fazer a história acontecer! É o que construiu o movimento gospel; deixando um legado a ser considerado pelos novos artistas cristãos.Algumas respostas possíveis são provocadas por sua força: 

Primeiro: negação. Alguns artistas insistem em negar a existência do movimento gospel (uma imbecilidade). 

Segundo: adesão. Desconsiderando os sinais para um novo rumo ou assumindo um ofício para repetição ou renovação, alguns entram na onda gospel pois convivem bem com a ambígua figura eclesiástica-artística, evangelística-teatral (uma eterna tensão e mistura das “montanhas”: religião justificando artes e entretenimento). 

Terceiro: crítica psicótica. A doentia opinião que vê o movimento gospel como uma grande conspiração religiosa, marqueteira e catequética de grande mal gosto (uma generalização que não corresponde a realidade, por isso o adjetivo “psicótico”). 

Quarto: interpretação histórica. É plausível considerar o movimento gospel como fenômeno preparatório para o que se constrói hoje em dia: uma música brasileira de raízes cristãs.

Digo que ele prepara para o que é feito hoje em dia – tempo de simultaneidades – por alguns motivos. Um deles: o artista está cada vez mais independente do pároco, o que não quer dizer separado, mas a figura do cantor vive de rendas provenientes de estruturas artísticas, ou melhor, de engrenagens estabelecidas pelas regras do entretenimento. Precisamos dizer que antes do movimento gospel não era assim; ou o músico “vendia a alma ao diabo” cantando qualquer coisa em barzinho ou vivia rodando igrejas recebendo ofertas. Cantores cristãos do seguimento religioso, sobrevivem da bilheteria de shows, de festas religiosas organizadas por igrejas e prefeituras, da venda dos discos e não mais precisam restringir suas apresentações às famosas “oportunidades” dentro da liturgia de culto. Sendo assim, é correto prever que ao ganhar independência financeira os artistas religiosos, antes amparados pela renda da igreja local, ganhem também mobilidade.Separando melhor o show do culto, o palco do púlpito, a tensão arte/religião continua apenas no nível das ideias, ou no plano da justificativa: pois o movimento gospel continuará a defender sua arte como objeto didático-evangelístico, embora na prática grande parte do seu repertorio já é para entretenimento. Embora legalmente, o novo texto da Rouanet considere a música gospel como manifestação cultural liberada para receber investimentos de empresários, desde que seja promovida por entidades profissionais do ramo artístico. Embora alguns continuem a negar tudo isso, embora… ah!

O Gospel é um movimento que influenciou definitivamente a trilha sonora da renovação carismática, unido – ao menos esteticamente – os dois ramos principais do cristianismo brasileiro: católicos e protestantes. A canção religiosa evangélica, a centenária música sacra, sofreu imensa transformação nesses últimos 40 anos descartando temáticas tão caras a ortodoxia cristã, mas amplificando outros que permanecem tanto para artistas bem sucedidos no processo quanto para aqueles que resolveram se abster do movimento, criando outro mais restrito às igrejas históricas e círculos avessos ao barulhão da mídia. Enfim, ninguém que é crente e artista pode ignorar as transformações desse fenômeno que misturou música, religião, templo, teatro e mercado.

Mas, há um passo importante a ser dado pela nova geração: assumir completamente sua vocação artística sem mais desculpas. Pois tanto o gospel quanto os críticos dele, andam desculpando sua arte. Quem pode dizer: sou artista e ponto? A nova geração. Essa mesma que reconhece a herança do movimento e se coloca como pós-movimento, inseridos completamente no universo das artes afim de cultivar um renascimento cultural tecido na Esperança – missionais sim, panfletários não. Quem pode interpretar a hinódia cristã anterior a marca gospel? Quem pode olhar para o movimento a partir de outra perspectiva? A nova geração que foi encontrada pelo Deus da história e anda fazendo arte na liberdade que existe Naquele que nos libertou para apenas ser.

Deixa estar.

Marcos Almeida para a Ultimato

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