segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Igreja funciona dentro de boate em SP


Rua Augusta, 486. Às 3h de um sábado, dezenas de pessoas se aglomeram em frente ao Clube Outs, uma das muitas casas noturnas da região. Para entrar, é preciso enfrentar seguranças engravatados e desembolsar R$ 20. Lá dentro, flanelados, tatuados e emos dançam hits da música pop dos anos 1980 e 90.

No dia seguinte, por volta das 18h, a casa continua a mil. Mas as portas estão abertas a qualquer um. Sob a luz de holofotes, uma banda anima um público jovem. Num telão, letras de músicas sobre louvor e compaixão. No bar, as garrafas de Smirnoff e Heineken permanecem intocadas.

O show termina, e Junior Souza, 37, surge. Veste uma camiseta preta estampada com o símbolo matemático que representa o “diferente”, tem o antebraço tatuado e brinco na orelha. Dá alguns avisos, indica o lugar onde fica a caixinha de contribuições e anuncia pelo microfone: “Agora a gente vai fazer um intervalo e já continua o culto, beleza?”

A pausa serve para que os fiéis da Capital Augusta possam trocar ideias. A Capital, como os habitués a ela se referem, é uma igreja protestante, fundada em 2009 pelo pastor Junior. O grupo inicial era formado por músicos, designers e gente que “já vivia a vida da Augusta”, segundo o pastor, que é professor de inglês e dá aulas na Faculdade Teológica Metodista Livre.

Quando o intervalo termina, Junior, de frente para um laptop, começa a ler um versículo da Bíblia. Carismático, ele às vezes quebra a leitura e traduz um trecho sagrado para uma fala informal. A maioria dos presentes ainda não chegou aos 30 anos. São jovens antenados, que compartilham sua fé no Facebook e no Twitter. No site da igreja, são disponibilizados podcasts religiosos.

Dono de um corpo tatuado, o skatista e publicitário Bidu Oliveira, 20, diz que sofreu preconceito em outras igrejas e ali encontrou uma comunidade. “O foco aqui é Jesus”, justifica. A Capital permite a ingestão de bebidas alcoólicas, desde que com moderação. Sexo, melhor dentro do casamento. “O projeto ideal é a castidade, mas, se não é essa a sua realidade, vamos seguir o caminho da reparação”, aponta o pastor. Gays são bem-vindos. “Na Augusta, é natural que eles frequentem. Nosso slogan é: ‘Proibido Pessoas Perfeitas’.”

Além do culto no Outs, há reuniões semanais nas casas dos integrantes. “Ali dividimos as alegrias e frustrações da vida em SP”, diz Junior, um paranaense de Assis Chateaubriand.
Antes de chegar à capital, ele era ligado, no interior, a uma igreja Vineyard, associação criada na Califórnia dos anos 1970. Não gosta de ser chamado de evangélico. “Tenho vergonha do que esse termo se tornou no Brasil”, confessa.

O aluguel do imóvel na Augusta é bancado por 12 pessoas da liderança da Capital. O dinheiro das doações, segundo o pastor, vai para missões religiosas e outras instituições. Valentim Van der Meer, promoter da boate, diz que aceitou alugar o espaço por simpatizar com a igreja. “É o mesmo público que frequenta o Outs na balada.”

Por volta das 21h, o culto termina ao som de Metallica. Por uma coincidência irônica que só uma rua tão augusta pode permitir, a poucos metros dali, no número 501, fica o Inferno Club. “É legal ter uma igreja na porta do inferno, mas, infelizmente, ele não está acessível. Eles cobram o dobro do aluguel daqui”, diz o pastor, rindo.

Veja abaixo, um vídeo com um culto na Capital:



Eu não sou contra o ministério underground. Pelo contrário! Reconheço a importância de ministérios como o desenvolvido pela Capital, em alcançar um público que, infelizmente, a Igreja Evangélica formal não está preparada para isso. Outras comunidades se destacam no ministério underground, como a Igreja Caverna de Adulão, em BH/MG e a Missão Avalanche, de Vitória/ES.


O público underground ainda é muito discriminado pelos evangélicos mais formais,por causa de seus esteriótipos visuais (tatoos, brincos, piercings, penteados, vestuário, etc). Por isso, as Igrejas e missões que desenvolvem o trabalho junto a essas "tribos", tem sim, a sua importância e precisam ser respeitadas.


No entanto, algumas informalidades são exageradas. Às vezes a linguagem usada, com o afã de ser popular a todos, acaba sendo um tanto quanto pobre demais. Mas o que realmente me preocupa em movimentos como esses, é a flexibilidade excessiva quando o assunto é bebidas alcoólicas, sexo e determinados visuais. Como vimos, a Capital não inibe o consumo de álcool e apenas apregoa ser melhor o sexo dentro do casamento, abrindo a possibilidade do sexo fora desse limite. Nisso, não concordo com eles. O pecado deve ser tratado com tal e as afirmações negativas contra ele devem ser diretas e sem negociações.


O fato de funcionar dentro de uma boate também não favorece. Não templista, mas pelas Escrituras podemos entender que o ambiente de culto deve ser diferenciado. É claro que a Igreja somos nós e que o prédio de reuniões não é o mais importante. No entanto, para a realização do culto de adoração ao Senhor, o ambiente precisa ser de acordo com esse propósito. Imagino que os frequentadores de uma boate também não se sentiriam muito confortáveis em ir a uma balada na nave de um templo religioso.


É preciso ter um pouco mais de critério em determinados pontos, a fim de que outras pessoas não sejam escandalizadas diante de certas práticas e ensinos. Por amor ao próximo, o cristão precisa ser vigilante, para não servir de pedra de tropeço para ninguém e nem trazer escândalo a ninguém (Mt 18.6-9). No mais, o trabalho underground é válido e, creio, que o Senhor tem os usado para ganhar muitas vidas para o Reino.


Disse o Senhor: "Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores" (Mc 2.17).

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