Já há algum tempo há evidências (para usar um termo caro aos ateus) espoucando aqui e ali sobre a ritualização e "sacramentalização" do movimento ateísta no mundo, inclusive com sumos sacerdotes como Richard Dawkins e Christopher Hitchens. Aliás, foi este último que, ao se tratar contra um câncer terminal, comentou sobre o fato de ter sido convidado para oficiar "casamentos ateus", dizendo-se, obviamente, horrorizado com este caminho que o movimento está tomando.
Há alguns dias atrás, ateus espanhóis foram impedidos de realizar uma "procissão ateia" em protesto contra as festividades católicas da Semana Santa. Outro acontecimento recente é o lançamento da "Bíblia Humanista" (The Good Book: A Humanist Bible - "O Bom Livro: uma Bíblia Humanista") pelo escritor A. C. Grayling, que propõe substituir Deus pela filosofia e pela ética.
Agora do The New York Times vem uma notícia que reforça ainda mais essa impressão: Militares ateus norteamericanos estão se movimentando para exigir que as Forças Armadas norteamericanas incluam uma espécie de "capelão ateu" entre os serviços religiosos que tradicionalmente fornecem às suas tropas. Atualmente há cerca de 3.000 capelães religiosos servindo as necessidades espirituais dos militares norteamericanos na ativa, a imensa maioria deles de cristãos (católicos e protestantes), mas também há alguns capelães judeus e muçulmanos, um budista, e existe a possibilidade de que se convoque um hindu e outro representando a religião wicca.
Tanto os chefes militares, como os religiosos e a imprensa dos Estados Unidos ficaram surpresos com esta nova demanda dos ateus, que também pode ser chamado de "capelão humanista" por Jason Torpy, líder da Military Association of Atheists and Freethinkers ("Associação Militar de Ateístas e Livre-Pensadores"), o que incluiria o "militar religioso ateu" (com o perdão da contradição) nos serviços comuns a todos os demais capelães, que não necessariamente se dirigem exclusivamente aos militares que professam a mesma confissão de fé, mas rotineiramente oficiam cerimônicas ecumênicas com vistas a fortalecer o moral da tropa. Torpy não vê nenhum problema em um capelão ateu participar dessas cerimônias, o que, cá entre nós, convenhamos, seria no mínimo estranho. Para ele, "o humanismo desempenha o mesmo papel para ateus que o cristianismo desempenha para cristãos e o judaísmo para judeus, respondendo a questões de preocupação última da vida, e direciona nossos valores". Bem, daí a oficiar cerimônicas religiosas coletivas seria um tanto quanto torpe, não é, Torpy? [com o perdão do trocadilho infame]
Por sua vez, outra organização ateísta, que curiosamente tem a sigla MASH (como o antigo seriado cômico), a Military Atheists and Secular Humanists ("Militares Ateístas e Seculares Humanistas", apenas para manter o MASH em português), que está sediada em Fort Bragg (North Carolina), pediu que o Exército norteamericano nomeasse um líder ateu para aquela base militar, atitude que foi seguida por outro capítulo do MASH sediado agora na base aérea de Fort Campbell, no Kentucky, em relação ao seu equivalente na Força Aérea.
Estima-se que cerca de 9.400 dos cerca de 1.400.000 militares norteamericanos na ativa se identifiquem como ateus, e muitos deles se sentem pressionados a se converterem a alguma religião por causa das crenças da imensa maioria que tem algum tipo de fé. Não deixa de ser uma preocupação relevante, temos que admitir, mas a exemplo do que acontece em outras áreas da vida em sociedade, é no mínimo muito curioso que os movimentos neoateístas recorram cada vez mais a cerimônias e expedientes religiosos para se posicionarem no mundo, o que levanta a suspeita de que eles sejam apenas mais uma antiga religião que é contra todas as outras religiões.
Pelo menos, vamos tentar tratar o tema com o humor do vídeo abaixo, já que parece que a clássica esquete da igreja ateísta no domingo de manhã está muito próxima de se tornar realidade:
Com informações do blog O Contorno das Sombras
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